Oposição e aliados pedem a renúncia de Temer; Palácio do Planalto vive dia de tensão e expectativa

Políticos da oposição e também da base aliada do governo pediram na quarta-feira (17) a renúncia do presidente Michel Temer do cargo e a convocação de eleição para a Presidência da República. O pedido ocorreu logo após o jornalista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, revelar que em áudio gravado pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, Temer avaliza a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha, preso na Operação Lava-Jato.

O líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado (GO), aliado do governo, defendeu a renúncia do presidente da República e a realização de eleições antecipadas para a Presidência e o Congresso. “Diante da gravidade do quadro, só nos resta a renúncia e a mudança na Constituição”, afirmou. O líder do PPS na Câmara, Arnaldo Jordy (PA), também da base aliada, afirmou ao jornal “O Globo” que o governo acabou e defendeu a realização de eleição presidencial.

Ex-senadora e ex-candidata à Presidência, Marina Silva (Rede) disse que o País está em estado de choque e que o presidente não reúne mais condições para continuar à frente do governo. “Três alternativas podem vir em nosso socorro: renúncia, mas isso é um ato unilateral e não podemos ficar esperando; cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE; e impeachment”, disse a oportunista Marina, que ressurge na cena política tentando pegar carona no caos. Na quarta-feira (17), o UCHO.INFO publicou matéria sobre a trinca de opções.

No Congresso, a oposição foi unânime nos pedidos de renúncia. “Num momento em que surgem essas gravações, esse governo não tem legitimidade para continuar governando, chegou ao ponto final. O ponto final se não vier por renúncia, será dado por esta Câmara e por este Senado através de um impeachment”, afirmou o líder do PT na Câmara dos Deputados, Carlos Zarattini.

A líder do PT no Senado, Gleisi Helena Hoffmann (PR), ré por corrupção em ação penal da Operação Lava-Jato e que afunda no lamaçal do Petrolão, também defendeu a renúncia e a convocação de eleições gerais. “O povo tem que escolher seu novo presidente”, afirmou.

O deputado Alessandro Molon (RJ), da Rede, que até outro dia engrossava as fileiras do PT e endossava a roubalheira patrocinada pela legenda, formalizou, na quarta-feira, pedido de impeachment do presidente da República, ato que contou com o moralismo caboclo que o País já conhece.


“Já protocolei um pedido de impeachment de Michel Temer com base nessa denúncia, nessa delação que trata do pedido de manutenção do pagamento de suborno para Eduardo Cunha para ele manter o seu silêncio”, disse Molon. “Ter um comportamento incompatível com o decoro do cargo é causa para cassação do mandato”, completou.

Antes da revelação do áudio, Eduardo Cunha já havia dito a interlocutores que uma eventual delação da JBS seria “o fim da República”. Aliás, Cunha, antes de ter o mandado parlamentar cassado, enviou diversos recados ao Palácio do Planalto, mas foi ignorado. Responsável pelo financiamento de dezenas de campanhas eleitorais em 2014, como afirmou o UCHO.INFO há meses, Eduardo Cunha arrastará ao olho do furacão um punhado de políticos que atualmente cumprem mandato parlamentar em Brasília.

Presidente nega acusação

Em nota que só pode ser classificada como patética, Michel Temer reconheceu ter se reunido em março com Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, mas negou que o encontro tenha servido para comprar o silêncio de Cunha.

“O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”, ressalta a nota divulgada pelo Palácio do Planalto.

“O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República”, acrescenta o documento de conteúdo evasivo.

Apesar de o presidente da República ter negado a grave acusação que consta da delação de Joesley Batista à PGR, servidores do Palácio do Planalto estão vivendo momentos de tensão e expectativa, pois nas primeiras horas após a eclosão do escândalo a renúncia de Temer era tida como certa. (Com agências de notícias)

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