JBSgate: atacar a imagem de Joesley Batista foi um desastrado tiro que Michel Temer deu no próprio pé

Que Michel Temer (PMDB), presidente da República, tenta ganhar tempo com seus discursos escorregadios todos sabem. Até porque, uma eventual (e esperada) saída do cargo colocaria o peemedebista a um passo da prisão, caso seja confirmada pela Justiça a autenticidade da gravação da conversa com o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, no porão do Palácio da Alvorada. Temer incorreu no crime de obstrução à Justiça, o qual já rendeu alguns dias de cárcere a determinados políticos.

Em rápido pronunciamento feito no Palácio do Planalto, no último sábado (20), quando os jornalistas tinham a expectativa de que seria uma entrevista coletiva, Temer partiu para o ataque, seguindo orientação de sua defesa, capitaneada pelo renomado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. A estratégia é desconstruir a delação dos irmãos Batista, em especial a de Joesley, e requerer a anulação das provas. Se isso acontecer, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) irão pelo ralo.

De forma precipitada e equivocada, no melhor estilo tiro no pé, o presidente decidiu atacar a imagem de Joesley Batista, algo que vem sendo feito com muita competência pela opinião pública desde a eclosão do escândalo. Em fala meteórica e sem direito a qualquer questionamento por parte da imprensa, Michel Temer disse, entre palavras, que Joesley e Wesley são bandidos, declaração confirmada na sequência ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

O presidente disse também que foi vítima de uma armação de pessoas que lucraram milhões de dólares em apenas um dia e que ao longo dos últimos anos obtiveram empréstimos bilionários junto ao BNDES, sugerindo que tais operações financeiras foram marcadas por ilegalidades. De igual modo, Temer afirmou que uma perícia revelou que gravação tem vários cortes e edições, o que ainda não foi confirmado.

O presidente e seu advogado tentam usar a tecnicidade jurídica, questionando a autenticidade e a integralidade da gravação, para evitar o pior. O peemedebista está preocupado apenas e tão somente com a própria situação, quando deveria preocupar-se com o País e a população, que não mais suportam escândalos de corrupção e conchavos políticos.

Se Joesley Batista, em especial, é o criminoso que Temer sugeriu em seu pronunciamento, recebê-lo no Palácio do Jaburu foi um suicídio político. O cenário torna-se ainda pior quando considerados pelo menos dois fatos: o encontro, que se deu na calada noite, não constava da agenda oficial da Presidência e o empresário não precisou se identificar aos seguranças e sentinelas presidenciais. Havia algo estranho na pauta dessa reunião canhestra que colocou a República de pernas para o ar.


Sobre o aludido viés bandoleiro de Joesley, o presidente da República deveria ter pensado melhor antes de fazer acusações que podem lhe render mais um processo. Se de fato Michel Temer considera o presidente do Grupo JBS um delinquente, não deveria ter comparecido ao luxuoso e concorrido casamento do empresário. Aliás, quem vai a casamento de criminoso sugere certa dose de intimidade com o mesmo.

Acerca do fato de a gravação ser clandestina, esse é um assunto que pode render dividendos negativos ao presidente. Quem participa de um diálogo tem o direito de gravar a conversa, desde que o áudio sirva para provar a inocência de quem gravou, não para acusar o interlocutor. Ou seja, no caso em questão a gravação não tem efeito de prova.

Ainda sobre a gravação, Michel Temer deveria se preocupar com o conteúdo criminoso da coversa, mas prefere fazer-se de vítima como forma de não desemborcar na seara de uma inevitável renúncia. Considerado o perigoso agravamento da crie política nacional, que há muito não é pequena, Temer poderia antecipar os capítulos e, em gesto de grande e para a felicidade gral da nação, anunciar sua saída do cargo.

Voltando à acusação a Joesley… Se o presidente do Grupo JBS não é santo – a sequência de fatos e a delação confirmam isso – falhas grosseiras ocorreram na segurança presidencial. Receber em palácio um criminoso para conversa eivada pelo banditismo político é no mínimo estranho, considerando-se que em uma das pontas do diálogo estava o chefe da nação. Nesse caso, falhou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o GSI, que deveria ter evitado o encontro ou pelo menos feito recomendações ao presidente para que o mesmo não ocorresse.

Em relação aos mimos concedidos pelos governos do PT ao império empresarial dos irmãos Batista, o presidente da República não pode alegar que desconhecia o assunto, já que durante cinco anos e poucos meses foi vice da agora impedida Dilma Rousseff.

A indignação de Temer com os estranhos e bilionários empréstimos obtidos pelo grupo deveria ter surgido há anos, não agora que o desespero lhe bate à porta. Como o Brasil transformou-se com o passar dos anos em paraíso da negação, o presidente jamais abriria mão do direito de se fazer de inocente.

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