PF prende assessor de Temer e dois ex-governadores do DF por fraude no Estádio Mané Garrincha

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (23), em Brasília, operação contra organização criminosa que fraudou e desviou recursos das obras do Estádio Mané Garrincha, um dos palcos da Copa do Mundo de 2014. A ação policial confirma as muitas matérias do UCHO.INFO sobre o superfaturamento das obras da arena, uma das mais caras do futebol planetário.

Entre os alvos de mandados de prisão estão dois ex-governadores do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), e Tadeu Filippelli, assessor especial do presidente Michel Temer e que atua ainda como presidente do diretório local do PMDB.

A operação é resultado da delação premiada de executivos da empreiteira Andrade Gutierrez, que apontaram a existência de esquema de corrupção nas obras do estádio, considerado um dos “elefantes brancos” da Copa.

Em comunicado, a PF apontou o preço espantoso da obra, a mais cara da Copa. “Orçadas em cerca de 600 milhões de reais, as obras no estádio, que é presença marcante na paisagem da cidade, custaram ao fim, em 2014, mais de 1,5 bilhão. O superfaturamento, portanto, pode ter chegado a quase 900 milhões.”

Batizada como Operação Panatenaico, a ação desta terça-feira envolve o cumprimento de 15 mandados de busca de apreensão, 10 mandados de prisão temporária, além de 3 conduções coercitivas – todas as diligências estão ocorrendo na capital dos brasileiros e em regiões próximas. Além dos políticos, a operação da PF tem como alvo agentes públicos, funcionários de construtoras e pessoas suspeitas de atuarem como operadoras de propinas.

Os mandados foram autorizados pela 10ª Vara da Justiça Federal no DF. Segundo a PF, o nome da operação é uma referência ao Estádio Panatenaico, sede dos jogos panatenaicos, competições realizadas na Grécia Antiga que foram anteriores aos jogos olímpicos.

A Polícia Federal também lembrou que o estádio foi construído sem estudos prévios de viabilidade econômica. Sem recorrer ao BNDES, a obra contou com empréstimos da Terracap, estatal do Distrito Federal, que atualmente encontra-se quase em estado de insolvência. Nesta terça-feira, também foi presa Maruska Lima, ex-presidente da empresa.


Atrás das grades

Os ex-governadores José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz são figuras notórias na política distrital. Arruda foi governador do DF entre 2007 e 2010, mas acabou caindo em desgraça em 2009 após ação da Polícia Federal que revelou um esquema de desvios da administração local. Um vídeo divulgado mostrou Arruda recebendo maços de dinheiro no escândalo que ficou conhecido como “Mensalão do DEM”.

Então filiado ao Democratas, José Roberto Arruda chegou a ficar dois meses presos, sendo o primeiro governador do Brasil a ser encarcerado durante o mandato. Antes desse escândalo, ele já havia renunciado ao cargo de senador em 2001 por causa de envolvimento no escândalo da adulteração do painel de votação do Senado.

Já o petista Agnelo Queiroz assumiu o governo em 2011, em aliança entre o PMDB e o PT e na esteira dos meses de caos na política local após a saída de Arruda. Ficou no cargo até o fim de 2014, após ser derrotado quando tentava a reeleição. Em 2016, foi condenado a ficar oito anos inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral por uso de recursos do governo local na sua campanha. Seu vice durante o governo era Tadeu Filippelli, que tempos depois alcançou o posto de assessor de Temer, agora alvo da Operação Panatenaico.

Em fevereiro de 2017, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisou o caso novamente e manteve a condenação de Queiroz, mas absolveu Filippelli, entendendo que as contas do ex-governador e do ex-vice deveriam ser julgadas de forma separada. A decisão vem sendo usada pela defesa de Temer na ação que tramita no TSE como exemplo de que o presidente também deve ter suas contas de campanha de 2014 separadas daquelas da ex-presidente Dilma Rousseff. A chapa Dilma-Temer foi acusada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) de abuso de poder político e econômico.

Nomeado para o cargo de assessor da Presidência em maio de 2016, Filippelli tinha uma sala no Palácio do Planalto e era chamado por jornais de Brasília como o “homem de confiança” de Temer no Distrito Federal. Em 2015, ele já atuava na assessoria parlamentar da vice-presidência da República, quando Temer ainda ocupava o cargo. Nos últimos meses, seu nome vinha sendo citado para uma possível candidatura ao governo do DF em 2018.

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