JBSgate: imprensa ignorou as muitas mentiras destiladas por Aécio Neves em vídeo sobre “armação”

O Brasil vive um momento perigoso, no qual a desconexão discursiva leva a um cenário de fio trocado. A reboque de uma avalanche de corrupção, que há mais de quinze anos é diariamente denunciada pelo UCHO.INFO, delatores e delatados têm adotado falas antagônicas.

Enquanto os acusadores revelam detalhes dos mais distintos casos de corrupção – a maioria gravitando na órbita do Petrolão –, os acusados surgem em cena para alegar inocência. Quem conhece o modus operandi da classe política brasileira sabe que esse anunciado “bom-mocismo” simplesmente inexiste. Como no Brasil política sempre foi feita à base de muito dinheiro, quase sempre de origem ilícita, que destrincha o crime fala a verdade, quem rebate a acusação mente.

Flagrado em gravações cobrando propina de Joesley Batista, presidente do polêmico Grupo JBS, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) ousou divulgar nas redes sociais, na terça-feira (23), um vídeo em que tenta passar à opinião pública a ideia de que foi vítima da “trama” de um “criminoso”.

Aécio não tem o dever da autoincriminação, mas não pode querer que os brasileiros acreditem em suas falsas palavras. A primeira grande mentira do senador afastado foi afirmar que jamais ganhou dinheiro como político. Caso isso seja verdade – o UCHO.INFO afirma que não é – Aécio deveria ter contratado um advogado de acordo com sua condição financeira. Bater carteira para bancar os honorários daquele que o defende no âmbito da Operação Lava-Jato é cometer um novo crime, idêntico ao anterior. Ou seja, correu atrás de dinheiro sujo para custear a defensa em processo por recebimento de dinheiro sujo.

Tendo crescido politicamente à sombra do cadáver do avô, Tancredo Neves, do contrário nada seria, o senador mineiro tropeçou na própria fala ao afirmar que sua irmã procurou Joesley Batista com intuito de vender ao empresário um apartamento no Rio de Janeiro e que pertence à sua mãe. Disse também o tucano que a venda do imóvel permitiria obter recursos para pagar os honorários do advogado.


Ora, se esse era de fato o objetivo da conversa entre Andréa e Joesley, que o senador tivesse dado o imóvel como garantia de um empréstimo bancário. Nenhuma instituição financeira negaria um pedido de empréstimo com uma garantia real cujo valor é vinte vezes o montante solicitado.

Antes de tudo é importante salientar que, no escopo da Operação Lava-Jato, advogados tidos como de “primeira linha” cobram honorários na casa de R$ 5 milhões, principalmente em casos de grande visibilidade.

O senador tucano afirmou que Joesley Batista ofereceu como alternativa um suposto empréstimo de R$ 2 milhões – em delação o empresário afirmou ser propina – e que a operação seria objeto de um contrato de mútuo. Mas não foi isso que aconteceu, pois o tal contrato de mútuo jamais existiu.

Se o repasse de R$ 2 milhões foi uma operação lícita, como sugere o próprio senador, fruto de suposto favor solicitado a um amigo, não havia necessidade de escalar pessoa de confiança (no caso o primo Frederico Pacheco de Medeiros) para receber o dinheiro em São Paulo. Muito menos o dinheiro da propina deveria ter sido entregue a Mendherson Souza Lima, assessor do senador Zezé Perrella (PMDB-MG), que despejou o montante em Belo Horizonte após longa viagem de automóvel. Alguém precisa avisar ao senador que o capitalismo inventou um negócio genial chamado banco, que aceita depósitos de todos os valores.

De igual modo, se a propina fosse de fato um empréstimo respaldado por contrato de mútuo, Aécio Neves não precisaria afirmar na conversa com Joesley que o melhor seria escolher um portador que pudesse ser morto antes de delatar.

Joesley disse ao senador: “Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança”.

Aécio respondeu ao empresário: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho”.

Tomando por base que empréstimo, mesmo que entre supostos amigos, não se faz sob clima tão mafioso, o vídeo serviu apenas para complicar ainda mais a já dificílima situação de Aécio Neves, um incompetente conhecido que exala soberba e falsa simpatia por onde passa. O mais estranho nessa epopeia criminosa é que a imprensa pouca atenção deu às mentiras do ainda senador.

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