Ao destacar em relatório parcial indícios de corrupção de Temer e Loures, PF quer reforçar balburdia

É sabido que no Brasil não se faz política sem grandes somas em dinheiro, na extensa maioria das vezes de origem ilícita, mas é inaceitável que uma investigação policial busque colocar o País de pernas para o ar com base em indícios. Ademais, enviar à Justiça um relatório parcial sobre investigação, quando cabe requerer dilatação do prazo, é abusar da má fé.

Com base nas delações dos irmãos Wesley e Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud, a Polícia Federal, em relatório parcial enviado ao STF, aponta indícios de prática de corrupção passiva por parte do presidente da República e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures.

A PF solicitou ao Supremo Tribunal Federal mais cinco dias para concluir o inquérito em que são apurados crimes de organização criminosa e obstrução à Justiça. De igual modo, a perícia nos áudios da conversa entre Temer e Joesley não está finalizada.

Os investigadores concluíram acerca do indício de corrupção passiva a partir das duas conversas gravadas entre Saud e Loures, além do vídeo em que o ex-deputado federal pelo PMDB do Paraná é flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil em dinheiro, fruto de propina paga pelo Grupo J&F.


No âmbito do Direito Penal o indício é insuficiente para condenar, ou seja, não é capaz de formar juízo. Isso significa que nesses casos prevalece a tese do “in dubio pro reo”, expressão latina que significa “na dúvida, a favor do réu”.

Não se trata de defender a qualquer custo a suposta inocência de Michel temer e Rodrigo Rocha Loures, mas de exigir responsabilidade na apuração de fatos graves, os quais, a depender do resultado das investigações, podem mudar o rumo do País. Por outro lado, o tal relatório parcial da PF não menciona o crime de corrupção ativa cometido pelos irmãos Batista e pelo executivo do frigorífico JBS.

Há em um dos anéis que circundam o “planeta” Lava-Jato o desejo deliberado de incrementar a balburdia política que chacoalha o País, beneficiando de maneira disfarçada alguns grupos políticos que têm cultuado estranho e obsequioso silêncio. Goste-se ou não das decisões e dos pronunciamentos do ministro Gilmar Mendes, do STF, é precisa sua afirmação de que os que desejarem fazer política, que não usem investigações para tanto, mas procurem os partidos políticos.

Combater a corrupção é mais do que necessário, até porque o Brasil não mais suporta a roubalheira sistêmica implantada pelo PT, mas deve-se respeitar os limites da legislação vigente. Em todos os seus quadrantes, sem exceção de qualquer natureza, o País está sob o manto do justiçamento colérico, quando na verdade é preciso exigir que se faça justiça. E entre justiçamento e justiça há uma enorme e perigosa diferença.

apoio_04