Aguardada denúncia de corrupção contra Michel Temer prolongará crise política por vários meses

Em maio de 2016, quando assumiu interinamente a Presidência da República, Michel Temer tinha conhecimento do elevado risco que passaria a correr ao migrar para o principal gabinete do Palácio do Planalto. Afinal, na condição de político experiente, Temer sabia que, cedo ou tarde, escândalos de corrupção viriam à tona a qualquer momento. Até porque, a política é um jogo bruto e rasteiro.

Ciente de que seria impossível esconder escândalos de corrupção, Michel Temer não apenas ignorou os fatos, mas anunciou a construção de uma “ponte para o futuro”, expressão usada para cunhar o viés reformista de um governo que jamais convenceu a opinião pública. Apensar das promessas, o presidente conseguiu ser mais do mesmo, até porque um político que apoiou o governo do PT não pode ser diferente do apoiado.

Desde então, Temer conseguiu aprovar no Congresso a PEC do Teto de Gastos, passo inicial para um programa severo de ajuste fiscal, mas as outras etapas deverão ficar para depois, uma vez que a necessidade de manter-se no cargo exigirá dedicação exclusiva a temas correlatos. Com isso, as reformas trabalhista e previdenciária perderam força no Parlamento.


A situação de Michel Temer piorou de forma rápida nos últimos dias, já que a Polícia Federal concluiu que não houve adulteração na gravação feita pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS. De tal modo, o crime de tentativa de obstrução à Justiça fica caracterizado e comprovado.

O horizonte ficará ainda mais carrancudo no máximo até terça-feira (27), quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entregará ao STF denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. A Procuradoria-Geral da República concluiu que a propina de R$ 500 mil paga a Rodrigo Rocha Loures, pela JBS, tinha o próprio Temer como destinatário final. A denúncia de obstrução à Justiça será apresentada mais adiante, piorando a já gravíssima situação do presidente

Temer poderia ter renunciado ao mandato de vice-presidente na esteira do impeachment de Dilma Rousseff ou, então, evitado que seu partido, o PMDB, trabalhasse nos bastidores pela derrocada da petista. De olho nos muitos nos frutos que a Presidência poderia render, Michel assumiu o poder central e acabou degolado pelos escândalos.

O empresariado nacional prefere seguir com Michel Temer até o fim do atual mandato, em vez de ser surpreendido pelo resultado de uma eleição indireta. Isso significa que os próximos meses serão marcados pelo acirramento da crise política, já que o presidente fará o impossível para permanecer no cargo.

apoio_04