Ainda tropeçando na crise, recuperação econômica não acontece como afirma o governo

O mercado financeiro reduziu novamente a projeção para o crescimento da economia em 2017. Trata-se da terceira vez seguida que os economistas revisam o número. De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (26), a estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 0,40% para 0,39%. Ou seja, a economia não está em ritmo de retomada do crescimento, como anunciam os palacianos.

Para 2018, a projeção para o crescimento do PIB foi reduzida pela quinta vez consecutiva, de 2,20% para 2,10%. Considerando que até o final do próximo ano ainda resta muito tempo, o melhor é adotar a cautela para evitar surpresas. Essa recomendação é importante porque a crise política, que piora com o passar dos dias, deve se agravar com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, inicialmente acusado de corrupção passiva.

A projeção para a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), caiu pela quarta vez seguida, ao passar de 3,64% para 3,48%, este ano. Para 2018, a estimativa caiu de 4,33% para 4,30% no terceiro ajuste consecutivo. As projeções permanecem abaixo do centro da meta de inflação, que é 4,5%.

Apesar dos descrentes índices da inflação, a sensação da população passa ao largo dessas projeções do mercado financeiro. Basta sair às ruas e fazer um levantamento informal com as pessoas que surgirem à frente. Todos são uníssonos em afirmar que ainda não sentiram no bolso a alardeada queda da inflação.


Esse movimento de queda do IPCA não resulta de ações do governo na economia, mas é fruto da redução do consumo como um todo. Com a perda do poder de compra dos salários e o temor da população em relação ao futuro, enxugar o consumo foi a saída encontrada pelos brasileiros para enfrentar a crise. A ligeira alta no consumo nos últimos dois meses ocorreu em setores específicos do varejo e na esteira da injeção no mercado de parte dos recursos das contas inativas do FGTS.

Para as instituições financeiras consultadas pelo Banco Central, a taxa básica de juro, Selic, encerrará 2017 e 2018 em 8,5% ao ano. Um dos instrumentos usados para influenciar a atividade econômica e, consequentemente, a inflação, atualmente a Selic está em 10,25% ao ano.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que gera reflexos nos preços porque taxas de juro mais altas encarecem o crédito e estimulam a poupança. No contraponto, ao diminuir a taxa de juro básico, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação. O que não vem acontecendo.

Uma redução mais acentuada da Selic pode colocar o governo federal em situação de dificuldade, pois a renegociação da dívida pública depende de remuneração atrativa, a qual, em muitos casos, está atrelada à taxa básica de juro. O cenário, que há muito não é dos melhores, se deteriora com a paralisia no setor de investimentos em infraestrutura, o que impede o combate ao desemprego.

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