No cenário atual, Temer deve chegar ao fim do mandato, mas acirramento da crise pode mudar o jogo

Por mais que seja absolutamente complexa, a política é feita de momentos, os quais nem sempre seguem o caminho da lógica. Isso significa que, a exemplo do que disse certa feita Magalhães, ex-governador de Minas Gerais, “política é como nuvem. Você olha e ela esta de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

Esse cenário é útil para analisar a situação do presidente Michel Temer, que por enquanto continua no cargo e com chance de chegar ao final do mandato, mesmo que esvaziado politicamente, quase um fantoche dos interesses dos congressistas que integram a chamada base aliada.

A primeira batalha que Temer terá de enfrentar é a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República e que já encontra-se na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ) aguardando a indicação de um relator. Em tese o governo tem votos suficientes para barrar a denúncia na CCJ e no plenário da Câmara, mas na teoria nem tudo é tão simples e fácil.

O que até o último final de semana era considerado cenário favorável, na segunda-feira (3) tudo mudou com a prisão preventiva de Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência, que já foi transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.

Esse fato deve impactar a decisão a ser tomada pelos deputados na CCJ e no plenário, especialmente porque não há como prever o que farão (e dirão) de agora em diante os presos que te recentemente integravam o núcleo próximo a Michel Temer. Com Geddel, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha presos; Lucio Bolonha Funaro também preso e avançando em seu acordo de delação; Moreira Franco e Eliseu Padilha balançando nos cargos – e na alça de mira da PGR –; e Rodrigo Rocha Loures em prisão domiciliar, a situação do presidente da República é de dificuldade crescente.


A questão é simples e conhecida. Todos os acima citados, exceto Eduardo Cunha, não têm vocação para longas temporadas no cárcere, que via de regra tem efeito devastador na parte psicológica dos presos chamados de “colarinho branco”. O melhor exemplo disso é o próprio Rocha Loures, que conquistou o direito à prisão domiciliar depois de alegar tortura psicológica na carceragem da Polícia Federal, em Brasília.

É importante ressaltar que nenhum preso é obrigado a aderir à colaboração premiada, assim como as autoridades não têm a prerrogativa de pressionar os réus como forma de obter a delação. E na Operação Lava-Jato muitos são os relatos de pressão sofrida por presos que aderiram à delação como forma de interromper o assédio psicológico. Não se trata de defender corruptos, mas de exigir a aplicação da lei nos limites estabelecidos pelo Estado Democrático de Direito.

Se por um lado é preponderante e necessária a faxina que vem sendo promovida na política nacional, por outro causa preocupação a incerteza que ronda o futuro do País. As recentes prisões foram decretadas dentro do que determina a legislação vigente, mas essas carregam interesses políticos escusos. No momento em que a denúncia contra o presidente foi fatiada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ficou claro que o objetivo não é apenas cumprir a lei, mas causar uma instabilidade que favoreça grupos políticos que estranhamente continuam calados em meio ao furdunço que se formou no País.

Em suma, essa assepsia na seara política tem um preço a ser pago pela sociedade, que não será quitado do mesmo modo como se faz com um carnê de loja de eletrodomésticos. Isso porque a crise política provocará danos ainda maiores na economia e a fatura será pesada e de longo prazo. E que ninguém sonhe com o País de Alice, porque a realidade verde-loura é bem distinta.

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