Em Varsóvia, Trump modula discurso pela xenofobia e conclama o Ocidente a “defender civilização”

Em seu primeiro discurso em território europeu, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira (6) que o Ocidente precisa tomar uma atitude se quiser proteger sua “civilização e modo de vida”, que segundo ele estão em jogo diante das ameaças apresentadas pelo terrorismo.

Trump pode dizer o que quiser, até porque sua eloquência é quase sempre galhofeira, mas entre defender a civilização ocidental e combater o terrorismo há uma grande diferença. Até porque, não se pode confundir as ações criminosas do grupo terrorista “Estado Islâmico” com os adeptos do Islã.

Os integrantes do EI são adeptos do wahabismo, corrente radical do islamismo sunita que predomina na Arábia Saudita, principal parceiro dos EUA no Oriente Médio. Se a questão é tomar medidas para proteger a civilização ocidental, que Trump rompa com o governo de Riad, comandado pela dinastia Saud, principal financiadora do EI. Aliás, não se pode esquecer que onze dos dezenove terroristas que participaram dos atentados de 11 de setembro de 2001 eram sauditas.

Em visita a Varsóvia, Trump discursou na Praça Krasinski, que abriga um monumento ao levante polonês contra os nazistas, em 1944. A fala foi proferida após um encontro com o presidente da Polônia, Andrzej Duda, e antes de seguir para a cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha.

“Estou aqui não apenas para visitar um antigo aliado, mas para exaltá-lo como um exemplo para outros que buscam a liberdade e que desejam convocar a coragem e a vontade de defender nossa civilização”, disse o republicano, descrevendo o governo polonês como um modelo de liberdade.

“A questão fundamental de nosso tempo é se o Ocidente tem o desejo de sobreviver”, acrescentou Donald Trump, empregando a mesma retórica de “vida ou morte” de seu discurso de posse no início deste ano, quando prometeu uma guerra contra a “carnificina americana” causada pelo crime urbano.


Desde que tomou posse, Trump enfrenta a animosidade de tradicionais aliados americanos, o que deve ficar exposto na cúpula de Hamburgo. Por isso, usou o discurso na Polônia – hoje, ao lado de Hungria, uma das principais vozes de oposição na UE ao eixo franco-alemão e às políticas migratórias do bloco – para cobrar unidade ao Ocidente. Em suas palavras, divisões podem colocar em xeque alianças forjadas após a Guerra Fria.

“Temos confiança em nossos valores para defendê-los a qualquer custo? Temos respeito suficiente pelos nossos cidadãos para proteger nossas fronteiras? Temos o desejo e a coragem de preservar nossa civilização em face daqueles que podem subvertê-la e destruí-la?”.

Trump ainda lançou elogios ao país anfitrião, em razão de sua resiliência diante de ameaças históricas, que partiram, por exemplo, da Alemanha nazista e da União Soviética. “Vamos todos lutar como os poloneses”, esbravejou.

A Polônia é um dos principais aliados dos Estados Unidos na Europa, e presidentes americanos costumam ter recepções calorosas no país. Além disso, é também um importante parceiro na OTAN e um mercado promissor para o gás obtido com fracking (fraturamento hidráulico) nos EUA.

OTAN

Em atitude que marcou uma mudança de tom por parte do líder americano, Trump se comprometeu com o chamado artigo 5, cláusula de defesa mútua da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – ela exige uma reação dos países-membros quando um aliado enfrenta problemas.

O presidente declarou que Washington “tem demonstrado, não meramente com palavras, mas com ações, que firmemente apoia o compromisso de defesa mútua” da OTAN, que tem a Polônia como um de seus membros. “Palavras são fáceis, mas as atitudes são o que importa”, alegou Donald.

Em sua primeira viagem internacional, Trump foi alvo de críticas por não ter confirmado seu compromisso com o artigo 5 durante um discurso na sede da OTAN em Bruxelas. A cláusula só foi invocada uma vez, na ocasião dos ataques terroristas de 11 de setembro, nos EUA. (Com agências internacionais)

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