Decidida a destronar Michel Temer, grande imprensa dedica-se a discutir “dança de cadeiras” na CCJ

Não há dúvida de que o Brasil vive uma crise política grave e sem precedentes, mas é preciso responsabilidade ao noticiar os fatos que surgem de um cenário de incertezas. Em franca cruzada para derrubar o presidente Michel Temer (PMDB), a grande imprensa e seus penduricalhos jornalísticos estão a dar ênfase à decisão do governo de trocar membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados para eventualmente garantir um placar favorável ao peemedebista.

A prática de substituir integrantes de comissões não é uma ode à democracia e está longe de ser ética, mas é regimental (contemplada pelo Regimento Interno da Câmara) e comum na política brasileira. Ao longo de décadas, esse expediente foi adotado por governantes de todos os matizes ideológicos, sem que a imprensa tivesse classificado a manobra como “vergonha”.

Não se trata de defender Temer, pelo contrário, mas será que apenas agora esse “troca-troca” despertou a atenção dos jornalistas estrelados? A imprensa deveria, neste momento, discutir o que será do País após essa vexatória disputa entre quadrilhas. Afinal, quem pensa que em breve o Brasil será uma versão tropical do País de Alice está enganado.

Com a pasmaceira noticiosa que brota em meio à confusão que se formou em Brasília, mais precisamente no Congresso Nacional, veículos de comunicação escalaram o tema à condição de pauta prioritária, como se não houvesse no cotidiano verde-louro assuntos outros que merecessem atenção da mídia.

Por trás dessa articulação rasteira e covarde existe um sem fim de interesses escusos, cenário que, no fim das contas, favorecerá a esquerda bandoleira e colérica, que tenta tirar a fórceps Michel Temer do cargo, como se o País fosse acéfalo em termos de leis e o Estado Democrático de Direito pudesse ser atropelado a esmo.


É sabido que Temer não chegou ao principal gabinete do Palácio do Planalto por ser um poço de inocência – na política verde-loura não há espaço para bem intencionados –, mas é preciso reconhecer que no Congresso está em marcha um golpe escancarado, o qual, em algum momento, reconduzirá a esquerda ao poder central.

Na fervilhante CCJ da Câmara é possível ver uma queda de braço entre quadrilheiros com mandatos, muitos dos quais empenhados em vingar o impeachment de Dilma Rousseff, despejada da Presidência no vácuo da corrupção sistêmica e das pedaladas fiscais.

É fato que cada um tem conceito distinto para “vergonha”, mas esses profissionais da comunicação deveriam se preocupar com o loteamento da Esplanada dos Ministérios, por exemplo, invencionice que os delinquentes com mandato preferem chamar de “presidencialismo de coalizão”. Na verdade, essa distribuição de cargos à sombra do escambo político é uma espécie de permissão para saquear os cofres públicos, desde que a devida contrapartida apareça no Parlamento.

Entre os discursos de lá e de cá, políticos nem de longe estão a pensar no Brasil e nos brasileiros, mas preocupados com interesses pessoais e partidários. De tal modo, a estratégia da oposição raivosa e espumante, que trabalha para emplacar aquilo que condena – o golpe –, quer fazer o governo sangrar ao máximo em termos políticos, minando a permanência de Michel Temer no cargo. Tanto é assim, que o deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ), um esquerdista radical que durante anos engrossou as fileiras do PT, protocolará no STF um mandado de segurança para anular a dança de cadeiras na CCJ.

Ciente de que o Supremo negará o pedido, até porque o Judiciário não pode interferir em questões internas do Legislativo nem modificar os regimentos da Câmara e do Senado, Molon quer ganhar tempo e prorrogar ao máximo a discussão sobre a denúncia contra Temer, empurrando para agosto a votação em plenário.

Isso fará com que a decisão final dessa discussão se aproxime da nova denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará contra o presidente da República. O impeachment de Dilma parece ter anestesiado a consciência dos brasileiros, que agora se veem diante da tentativa de ressurgimento do movimento esquerdista que mandou o País pelo ralo.

apoio_04