Mesmo com um pé na prefeitura de SP, Alckmin joga contra Doria nas coxias do PSDB, de olho em 2018

Se o conturbado PSDB já sofria com os efeitos colaterais do escândalo envolvendo o senador Aécio Neves (MG), a partir de agora o calvário deve ser ainda maior, uma vez que o ex-publicitário Marcos Valério, condenado a quarenta anos de prisão na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), fechou acordo de colaboração premiada. Durante as negociações, Valério garantiu que detalhará o “Mensalão tucano”, esquema criminoso que financiou a campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais.

Diante desse cenário, o PSDB sofre um novo golpe e vê o presidente afastado da legenda, Aécio Neves, perder mais espaço no cenário político nacional. A situação é tão difícil para o tucanato mineiro, que Aécio, caso queira manter o chamado foro privilegiado, terá de concorrer a uma vaga de deputado federal nas eleições de 2018, pois uma reeleição ao Senado é considerada impossível por causa dos escândalos de corrupção.

Com esse quadro, quem ganha espaço como possível candidato do PSDB à Presidência da República é o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, que também teve o nome citado por delatores da Operação Lava-Jato. Ou seja, Alckmin também começa a exibir seu telhado de vidro, mesmo que a quantidade de telhas frágeis e transparentes não seja grande.

O obstáculo maior no projeto político-eleitoral do governador paulista atende pelo nome de João Doria, prefeito da maior cidade brasileira, São Paulo, e que há muito flerta com o Palácio do Planalto. Se por um lado Alckmin tem mais cancha política, por outro Doria tem um grande e incontestável relacionamento com o empresariado nacional. No caso do alcaide paulistano, a proximidade com os empresários é um facilitador no momento de captação de recursos, mesmo que a legislação eleitoral proíba o financiamento por pessoas jurídicas.


Ciente de que a corrida presidencial do próximo ano é a última chance de almejar a Presidência, Geraldo Alckmin começa a se movimentar nos bastidores do PSDB para interromper o voo de Doria. Para tanto, o governador vem defendendo a realização de prévias para a escolha do candidato do partido ao Palácio do Planalto. Se os tucanos de fato sonham com a sobrevivência política, o melhor a fazer no momento é optar por uma renovação radical, já que o ranço da corrupção atingiu de forma imperdoável o partido.

O governador sabe que João Doria representa o novo e por isso impõe considerável sombra ao seu plano eleitoral. Que ninguém pense que Alckmin age nos bastidores do poder como um contínuo de sacristia, pois na política não há espaço para esse tipo de personagem. Em suma, o suposto “bom-mocismo” político de Geraldo Alckmin fica apenas na aparência de estafeta de paróquia.

Fosse coerente, Alckmin abandonaria a hipocrisia e desembarcaria imediatamente da administração de João Doria, onde controla algumas secretarias municipais. Quanto o atual prefeito da cidade de São Paulo apresentou-se como eventual postulante ao cargo, Geraldo Alckmin sugeriu que ele [Doria] gastasse a sola dos sapatos e convencesse os integrantes da cúpula do PSDB paulistano de sua candidatura. Só depois disso é que o governador surgiu em cena como padrinho político de Doria.

Por outro lado, João Doria, que ainda é jovem, deveria pensar na possibilidade de mudar de partido, deixando o PSDB naufragar com Alckmin no melhor estilo “abraço de afogados”. Afinal, muita lama ainda há de emergir do pântano do Petrolão e respingar com força no ninho tucano. Por mais que Doria não tenha escândalos no currículo, as nódoas que começam a aumentar na plumagem tucana pesam muito.

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