FARC anunciam criação de partido e Colômbia pode tornar-se refém do radicalismo esquerdista

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) anunciaram que lançarão oficialmente um partido político em 1º de setembro, data que marcará um mês do completo desmantelamento da guerrilha como parte de um histórico acordo de paz com o governo local.

“Em 1º de setembro estaremos lançando publicamente o novo movimento político”, disse o guerrilheiro de codinome Carlos Antonio Lozada (à direita na foto), membro do Estado Maior das FARC, em coletiva de imprensa na segunda-feira (24). O líder guerrilheiro afirmou ainda que o partido será apresentado em um ato político na Praça Bolívar, em Bogotá.

Os rebeldes ainda procuram traçar os alinhamentos para formar seu partido político e definir os candidatos que disputarão futuras eleições. Segundo Lozada, os dirigentes das FARC estão recebendo relatórios de “diferentes departamentos que fazem parte do Estado Maior Central” e que se ocupam “de elaborar as propostas” que apresentarão com sua plataforma política.

“Temos uma proposta de modelo econômico, a política de gênero que será realizada por nosso partido, as propostas que faremos ao setor da juventude, bem como a defesa do meio ambiente, a política do partido frente à questão urbana e, igualmente, para a parte agrária”, acrescentou o líder guerrilheiro.

“Seguramente, nos dias seguintes ao desenvolvimento do plenário e posteriormente no processo, focaremos em estudar não somente os nomes, mas, sobretudo, e fundamentalmente, as propostas que vamos apresentar”, acrescentou Lozada.

Financiamento do Estado

Por outro lado, o ex-chefe da equipe negociadora das FARC com o governo, Luciano Marín Arango, de codinome Iván Márquez (à esquerda na foto), indicou que o partido da guerrilha receberá financiamento do Estado assim como acontece com os demais movimentos políticos do país.

“Nos acordos está escrito claramente que, assim como os demais partidos, [o partido da guerrilha] terá financiamento por parte do Estado, de modo que nisso não há nada novo. Esperamos que o Estado cumpra com esses compromissos e facilite assim o processo de reintegração política das FARC”, assegurou Márquez. “Acertamos a paz para participar da política. Dissemos que abandonaríamos balas para ter palavras como a única arma.”


Além disso, o líder reiterou sua preocupação com o assassinato de guerrilheiros indultados, e afirmou que já são “cerca de seis” rebeldes e “alguns familiares assassinados”. “Seria triste que na Colômbia voltássemos à eliminação de uma força política como ocorreu com a União Patriótica”, manifestou Márquez.

Dez assentos não eleitos até 2023

O tratado entre FARC e governo federal garante dez assentos (cinco no Senado e cinco na Câmara) não eleitos no Congresso até 2023 – depois desta data, a legenda terá de participar das eleições. As FARC também poderão lançar candidatos durante as eleições para tentar aumentar sua participação parlamentar.

As FARC lutaram contra o governo colombiano por quase cinco décadas, antes de chegar a um acordo de paz no ano passado depois de quatro anos de negociações em Cuba. O conflito deixou feridas profundas na Colômbia e resultou em 250 mil mortos, cerca de 60 mil desaparecidos e sete milhões de deslocados.

O acordo de paz foi rejeitado por margem mínima num referendo nacional no ano passado, antes de ser renegociado e levado ao Congresso pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos.

Opositores ao acordo de paz foram contra as FARC entrando na esfera política depois de anos de violência, sequestros e tráfico de drogas. Eles também foram contra uma anistia para a maioria dos ex-combatentes ou projetos de serviço comunitário, em vez de sentenças de prisão, conforme está elaborado no tratado.

As FARC emergiram na década de 1960 de uma revolta camponesa em um país atormentado pela desigualdade de renda, pobreza rural e grandes proprietários de terras que exercem o poder econômico e político.

Não é preciso dose extra de raciocínio para perceber o que será da Colômbia dentro de alguns anos, a contar da estreia das FARC como partido político. Depois de atormentar a vida dos colombianos durante mais de cinco décadas, a guerrilha agora quer transformar o país em mais uma república comunista, nos moldes da que vem tirando direitos e garantias dos venezuelanos.

É importante destacar que nem todos os integrantes das FARC ingressarão no anunciado partido. O que significa que por necessidade de sobrevivência acabarão se entregando, sem muito esforço, ao que sabem fazer de melhor: atentar contra o Estado. Outros atuaram como sicários de plantão. Sem contar que muitos dos ex-guerrilheiros especializaram-se ao longo dos anos no tráfico de drogas, no momento em que a luta armada deixou de ser rentável. E os países vizinhos à Colômbia que se preparem, pois o tráfico de entorpecentes em breve contará com gente do ramo.

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