Se a denúncia por corrupção contra Temer foi meteórica, Janot precisa denunciar Gleisi com rapidez

Com a aljava exibindo pouquíssimas flechas e o bambuzal tosquiado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deveria mostrar à opinião pública que ter alçado o presidente Michel Temer à mira não é fruto de um processo seletivo no âmbito das investigações, mas o estrito cumprimento do que determina a legislação. Mesmo assim, o UCHO.INFO continua acreditando que houve açodamento por parte do procurador.

Por mais que sobrem explicações técnicas para a rápida apresentação de denúncia contra Temer, apesar da fragilidade do conjunto probatório, um processo de investigação de tal naipe, envolvendo o chefe do Executivo federal, demandaria pelo menos seis meses, se respeitadas as regras costumeiramente seguidas pela Polícia Federal, a quem cabe investigar o presidente da República, se for o caso. Longe desse prazo, a denúncia contra Temer saiu do forno da Procuradoria-Geral da República em apenas um mês.

O melhor exemplo dessa estranha celeridade no caso de Temer é o tempo que a Polícia Federal precisou para concluir inquérito que aponta crimes (corrupção e lavagem de dinheiro) cometidos pela senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) e por seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações).


Em fevereiro de 2016, a PF apreendeu documentos e planilhas na residência da secretária da Odebrecht responsável pelo setor de propinas da empreiteira, mas somente na segunda-feira (7), após dezoito meses de investigações, divulgou relatório sobre o respectivo inquérito.

Se a pressa de Rodrigo Janot se explica com a proximidade de sua saída do comando da PGR, o momento é adequado para oferecer denúncia contra Gleisi, Paulo Bernardo e outros três investigados, pois a sociedade não mais suporta a demora em punir os protagonistas do maior esquema de corrupção da história da Humanidade. Mesmo assim, deve-se seguir o rito processual e respeitar a legislação vigente para que não haja questionamentos futuros.

Caso as flechas que ainda restam a Janot não são em número suficiente para alcançar Michel Temer, que parece ter se transformado em alvo predileto do procurador-geral, que esses retalhos do bambuzal sejam disparados na direção de Gleisi Hoffmann e seus comparsas, pois denúncias dessa gravidade deveriam respeitar a fila e a ordem de chegada.

Mencionada nas planilhas de propina da Odebrecht sob o sugestivo codinome “Amante”, Gleisi Helena teria recebido, através de terceiros, oito pagamentos no valor de R$ 500 mil cada. A PF afirma também que foram encontrados mais três repasses à empresa de marketing que trabalhou em campanha eleitoral da senadora petista: um de R$ 150 mil em 2008 e dois de R$ 150 mil em 2010.

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