Conheça o cenário em que João Doria e Geraldo Alckmin poderão duelar pela Presidência da República

Se há um segmento em que o acaso passa a léguas de distância e a coincidência não tem espaço, esse com certeza é a política. Vivendo uma crise múltipla e sem precedentes, o Brasil tornou-se refém das eleições do próximo ano, já que os políticos não conseguem tirar os olhos de 2018. Ou seja, tudo o que se faz e decide na seara da política nacional passa obrigatoriamente pelas disputas do próximo ano. E essa regra vale para todos, sem distinção ideológica ou poder político.

No mais importante estado da federação, São Paulo, a situação não é diferente. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que apoderou-se do partido no vácuo do calvário político do senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da legenda, trabalha nos bastidores e fora dele para ser o presidenciável tucano em 2018. Na opinião do UCHO.INFO, como já noticiado, uma candidatura de Alckmin servirá para levar o PSDB à débâcle.

Vivendo o pior momento de sua história, o PSDB começa a perceber a dificuldade que é existir longe do outrora vigor do Partido dos Trabalhadores, dragado pelo maior escândalo de corrupção de todos os tempos, o Petrolão. Os tucanos acostumaram-se com a tarefa de fazer contraponto ao petismo, mesmo sem competência para serem oposição, mas agora não têm mais com quem duelar em termos políticos. Ou seja, o PSDB pode minguar na esteira do desmoronamento do PT. Situação idêntica ocorreu com Jânio Quadros, que encolheu politicamente com a morte de Adhemar de Barros.

Voltando às eleições… Sem perceber que na corrida presidencial do próximo ano terá destaque quem vier de fora do meio político, Geraldo Alckmin trabalha para inviabilizar eleitoralmente o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que também tem o Palácio do Planalto na mira.

Doria é um “cristão novo” no cenário político, por isso tem poucas realizações a mostrar, mas por outro lado não tem em seu currículo escândalos de corrupção. O que é muito em um país que vive aos tropeços por causa da roubalheira sistêmica.

Há dias, o UCHO.INFO sugeriu que Doria, caso queira ser candidato à Presidência no próximo ano, deveria mudar de partido, pois Alckmin está disposto a jogar pesado. Mesmo que não faça isso diretamente, o governador paulista tem à disposição um séquito de aduladores que se encarrega do jogo sujo e rasteiro. E quem entende de política consegue identificar essas incursões covardes.

Na última segunda-feira (7), João Doria foi à capital baiana para receber o título de Cidadão Soteropolitano, honraria cuja iniciativa partiu do prefeito da cidade, ACM Neto (DEM). Como nada é por acaso, essa ida de Doria a Salvador pode ser interpretada como uma aproximação do tucano em relação aos democratas, que retomaram o vigor político com a chegada de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, em especial após o plenário da Casa rejeitar a denúncia contra o presidente da República.

Erra quem afirma que Maia jamais sonhou com a possibilidade de assumir a Presidência da República, mas o democrata acabou convencido de que o sonho poderia virar pesadelo e que era preciso capitalizar o momento vivido pelo partido. Ademais, em caso de mudança para o Palácio do Planalto, Rodrigo Maia teria de se preparar para conviver com a peçonha política do PMDB, partido que pela longevidade pode ser considerado como ninho de cobras. E no Brasil ninguém consegue governar tendo o PMDB na oposição.


Sendo assim, Rodrigo Maia aderiu ao “bom-mocismo” de ocasião e decidiu trabalhar em favor de Temer, tendo como promessa o apoio do PMDB em eventual disputa pelo governo do Rio de Janeiro no próximo ano. Como o PMDB está em baixa no Rio, principalmente depois dos escândalos envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral Filho, o presidente da Câmara continua sendo um forte candidato ao Palácio Guanabara. Um sonho menor, mas viável.

Não obstante, o palavrório de Maia, que antes era belicoso, da noite para o dia adotou viés conciliatório, inclusive contemplando as necessidades mais urgentes do País e abrindo caminho para o governo Temer aprovar as necessárias medidas de estímulo à economia.

Esse discurso coincide com o de João Doria, mas caminha na contramão do palavrório de Geraldo Alckmin, que defende a imediata saída do PSDB do governo, mas, ao mesmo tempo, prega que o partido apoie a aprovação das reformas no Congresso Nacional.

Em matéria publicada há algumas semanas, este portal afirmou que para chegar vivo em 2018, em termos políticos, o PSDB precisa continuar no governo Temer, pois do contrário terá de se juntar à oposição raivosa comandada pelo PT. O que não é a melhor solução, pelo contrário.

Muitos jornalistas estão a noticiar que a disputa entre Alckmin e Doria é uma batalha entre o criador e a criatura, respectivamente, mas quem acompanhou a eleição para a prefeitura paulistana em suas coxias sabe que essa não é a realidade dos fatos. Alckmin só embarcou na campanha de João Doria quando percebeu que a chance de vitória do empresário só crescia e perder o bonde da história seria um tiro no pé. Em suma, o governador paulista foi um dos últimos a embarcar na campanha do agora prefeito da maior cidade brasileira, antes da oficialização da mesma.

Contudo, mesmo afirmando que não entrará em rota de colisão com Geraldo Alckmin nas entranhas do PSDB, João Doria só não será candidato à Presidência se mudar de ideia ou preferir seguir como prefeito de uma das maiores cidades do planeta.

A estratégia para viabilizar uma candidatura de Doria ao Palácio do Planalto é simples, apesar de parecer complexa. O prefeito paulistano migraria para o Democratas e concorreria à Presidência em chapa “puro sangue”, tendo ACM Neto como candidato a vice. Bem avaliado, ACM Neto é um representante do Nordeste, algo importante na composição de chapa presidencial, e nome que agrada ao direitismo moderado. Fora isso, ACM Neto foi eleito e reeleito com folga para comandar Salvador, um dos principais polos nordestinos.

Para completar o cenário, Doria vem se firmando como o “anti-Lula”, o que ajuda de forma considerável nas urnas. Como peça acessória do quebra-cabeças, porém não menos importante, o presidente do Legislativo paulistano, com quem Doria mantém boas relações, é o democrata Milton Leite.

Por outro lado, o PMDB não perdoará tão cedo o gesto de Alckmin, que pressionou parte da bancada tucana da Câmara dos Deputados para votar pela continuidade da denúncia contra Michel Temer. Traduzindo, é grande a chance de os peemedebistas apoiarem um candidato do DEM à Presidência, principalmente depois do apoio de Rodrigo Maia ao presidente da República. De quebra, Maia, se candidato ao governo do Rio de Janeiro, contaria com João Doria e ACM Neto no palanque.

No caso de Doria seguir tal caminho, Geraldo Alckmin terá sérios problemas nas urnas, pois em São Paulo o governador tucano vem perdendo a simpatia da população. Quem circula pela capital paulista não demora a perceber que Alckmin há muito deixou de estar entre os preferidos dos eleitores. Em outras palavras, Alckmin acredita ser o Zorro da política verde-loura, mas por enquanto é o Sargento Garcia da Botocúndia.

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