Após ser generoso com doleiro da Lava-Jato, juiz Sérgio Moro diz que “não é momento de vacilações”

Autoridades envolvidas na Operação Lava-Jato, que desmontou o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, continuam abusando do histrionismo explícito, o que faz com que sejam tratados como super-heróis por boa parte da opinião pública. Quando isso ocorre, não há como negar que a sociedade foi alvo de implacável processo de deterioração, transformando o cidadão em peça de um quebra-cabeça que atenta contra a democracia.

Responsável na primeira instância da Justiça Federal pelos processos decorrentes da Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro, em palestra proferida na capital paulista, nesta terça-feira (15), disse que “não é momento de vacilações”. O magistrado exaltou o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal nas investigações sobre o Petrolão.

“Eu penso que num quadro como esse, é preciso ter um enfrentamento, principalmente por parte da Polícia e do Ministério Público, sem vacilações. Eu respeito muito o diretor Leandro Daiello, acho que ele faz um excelente trabalho como diretor, os delegados que trabalham em Curitiba são muito dedicados, coragem do superintendente da Polícia Federal em Curitiba”, declarou Moro, no evento “Mitos e Fatos”, realizado pela rádio Jovem Pan.


Bom como juiz, mas questionável como palestrante, o juiz da Lava-Jato tem o direito constitucional à livre manifestação do pensamento, como expressa a Carta Magna em seu artigo 5º (inciso IV), mas o desmonte do Petrolão poderia ter ocorrido muito tempo antes, se as autoridades responsáveis não tivessem vacilado diante das primeiras denúncias feitas pelo editor do UCHO.INFO acerca do esquema criminoso, em agosto de 2005.

Quatro anos se passaram e, em 2009, uma nova denúncia levada ao Ministério Público Federal resultou em um conjunto de investigações que culminou com a deflagração da Operação Lava-Jato, em março de 2014, quando ocorreu a prisão do doleiro Alberto Youssef, na capital maranhense.

Se há alguém na Lava-Jato que não deveria falar em “vacilações”, esse é o juiz Sérgio Moro, que ciente de que Youssef havia descumprido acordo de delação no âmbito do escândalo do Banestado, que proibia sua atuação no mercado de câmbio, homologou novo acordo com o principal operador financeiro do esquema de corrupção que durante uma década funcionou deliberadamente na Petrobras.

Diante do descumprimento do acordo de delação, Alberto Youssef jamais poderia ter sido beneficiado com pena tão branda no escopo da Lava-Jato – foi condenado a menos de três anos de prisão. Alguém há de afirmar que o doleiro teve bens e recursos confiscados pela Justiça, mas tudo o que foi apreendido representa uma ínfima parte do montante desviado da estatal.

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