Se até recentemente a delação da JBS era considerada suspeita, nos últimos dias o premiadíssimo acordo de colaboração dos irmãos Joesley e Wesley Batista e do executivo Ricardo Saud entrou no terreno da polêmica e dos desmentidos. O que pode suscitar a anulação do acordo, que para muitos um atentado ao bom senso.
Não bastasse a fragilidade do material probatório que serviu de base para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar denúncia por corrupção passiva contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), agora o acordo de colaboração começa a sofrer ataques consistentes de pessoas citadas nos depoimentos de Ricardo Saud. Isso significa que essas contestações poderão se alastrar por todos os depoimentos, a começar pelos de Joesley Batista.
Saud disse aos procuradores da República que durante jantar na casa de Joesley foi tratada propina de R$ 10 milhões ao governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), para que o grupo J&F assumisse o serviço potiguar de água e esgoto. Segundo o delator, no encontro estavam presentes a mulher de Joesley Batista, a jornalista Ticiana Villas Boas, o deputado federal Fábio Faria (PSD), filho do governador do RN, e sua esposa, Patrícia Abravanel, filha do apresentador Silvio Santos.
Segundo Ricardo Saud, o pagamento da propina foi combinado na presença de Ticiane, Patrícia e Fábio Faria, este último acusado de ter se beneficiado do dinheiro sujo. Com a divulgação do respectivo trecho da delação, não demorou muito para Ticiana Villas Boas desmentir Saud em mensagem de áudio enviada a Patrícia Abravanel, a quem prestou solidariedade e negou ter ocorrido tal conversa durante o jantar.
“Aquele jantar, imagina só, não tem nada a ver… do que falaram, foi um jantar normal. Eu não vi nada de dinheiro, nada que beirasse o ilícito. Se você for chamada para depor, eu vou ser… ou tiver qualquer tipo de implicação pra você, eu sou sua testemunha”, afirmou Ticiana Villas Boas na gravação.
Essa declaração de Ticiana é mais que suficiente para mandar pelos ares a delação da JBS como um todo, pois desde o início há uma avalanche de suspeitas que ronda o bisonho acordo de colaboração premiada, negociado à base da pressão com a PGR e estranhamente homologado pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para piorar um quadro que começou a se deteriorar nos últimos dias, a apresentadora e empresária Patrícia Abravanel usou sua conta no Instagram para chamar Saud de mentiroso, sendo que a postagem estava acompanhada de uma imagem do Pinóquio.
“Sim, eu estou processando Ricardo Saud da JBS por danos morais. Ele mentiu e ligou o meu nome e o da minha família a algo terrível como negociação de propina! Um absurdo! Quero aqui deixar claro que qualquer quantia ganha nessa ação será doada. Só não poderia deixar uma calúnia dessas passar em branco”, escreveu Abravanel na rede social.
Patrícia Abravanel tenta na Justiça, com base na gravação enviada por Ticiana Villas Boas, anular o depoimento de Ricardo Saud à Procuradoria-Geral da República. Se isso acontecer, a situação de Joesley Batista ficará ainda mais complexa, uma vez que não há como levar adiante uma investigação com base em depoimentos que começam a ser contestados pelos citados.
