Trump amplia sanções à Coreia do Norte, mas medida pode passar ao largo dos objetivos dos EUA

Na última terça-feira (19), ao discursar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mostrou mais uma vez que sua habilidade para a diplomacia assemelha-se a um gorila em loja de cristais. Trump ameaçou aniquilar a Coreia do Norte e disse estar pronto para intervir na Venezuela.

Em relação à Coreia do Norte, Trump ainda não percebeu que o país asiático vem funcionando ao longo dos anos como massa de manobra da China e da Rússia, que tentam colocar Washington contra a parede, sem assumir os dividendos negativos do desgaste internacional.

Considerando que Donald Trump é um gazeteiro profissional que não leva a cabo o que diz em pé e escreve sentado, o presidente americano anunciou, na quinta-feira (21), ordem executiva ampliando as sanções contra a Coreia do Norte. As medidas envolvem punições a bancos estrangeiros, indivíduos e empresas que facilitem o comércio com o governo de Pongyang.

A medida “cortará as fontes de receita que financiam os esforços norte-coreanos de desenvolver as armas mais mortíferas que a humanidade conhece”, afirmou Trump em Nova York, onde participa da 72ª Assembleia Geral das Nações Unidas.

Segundo o inquilino da Casa Branca, com as novas sanções, o regime de Kim Jong-un “já não poderá contar com que outros facilitem suas atividades comerciais e bancárias”.

“Os bancos estrangeiros enfrentarão uma ameaça clara: ou fazem negócios com os EUA ou facilitam o comércio com o regime sem leis da Coreia do Norte”, acrescentou o presidente, em almoço com o líder da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe.

Washington já pune empresas estrangeiras vinculadas a programas militares norte-coreanos, mas a nova ordem executiva aumenta ainda mais o alcance das sanções, mirando um amplo grupo de indústrias, como têxteis, de pesca, tecnologia e produção.

“Convidamos todas as nações responsáveis a implementarem as sanções das Nações Unidas e imporem suas próprias medidas, como a nossa”, pediu Trump. “O que buscamos é a desnuclearização completa da Coreia do Norte.”

Segundo agências de notícias internacionais, fontes diplomáticas em Bruxelas afirmaram que a União Europeia (UE) também chegou a um acordo sobre a ampliação de suas sanções contra o país asiático. Entre as medidas estaria a proibição de investimentos e da exportação de petróleo da Europa, bem como a criação de uma lista negra de entidades e indivíduos norte-coreanos, congelando seus ativos no bloco econômico e proibindo-os de entrar em território da UE.


Ao anunciar as sanções na quinta-feira, Trump afirmou que o banco central da China ordenou às instituições financeiras chinesas que parem imediatamente de fazer negócios com Pyongyang. Pequim, no entanto, que é o principal parceiro comercial da Coreia do Norte, ainda não confirmou oficialmente a informação.

Trump esteve reunido com Moon e Abe para discutir a ameaça apresentada pela Coreia do Norte. O premiê japonês lembrou os dois lançamentos de mísseis realizados pelo regime norte-coreano nas últimas semanas e que chegaram a sobrevoar o território do Japão, descrevendo os atos como “intoleráveis” e exaltando Trump por reunir os aliados para a conversa.

“Estamos caminhando para uma nova etapa da pressão” contra a Coreia do Norte, afirmou Abe, demonstrando apoio às sanções anunciadas pelos EUA na quinta-feira.

Moon, por sua vez, também condenou Pyongyang pelas mais recentes provocações. “São extremamente deploráveis e têm irritado a mim e a meu povo, mas os Estados Unidos têm respondido firmemente e da maneira certa”, declarou o presidente sul-coreano.

Miopia diplomática

Donald Trump acredita ser o dono do universo e por isso não aceita ser desafiado, mas continua caindo nas armadilhas criadas descontrolado e egocêntrico Kim Jong-un, que a cada ameaça de Washington destila suas bizarrices discursivas.

O presidente americano adotou as mencionadas sanções como forma de mandar um recado transverso à China, que no cenário internacional há capitaliza com o destempero totalitário do ditador norte-coreano. Em suma, Trump tentou mostrar à China que o governo de Pequim deve decidir entre manter as relações comerciais com os EUA ou continuar financiando, por debaixo dos panos, o remime de Kim Jong-un.

Nessa nova queda de braços que se forma a partir das sanções é preciso considerar alguns pontos, os quais podem transformar as medidas de Trump em ação inócua. Em primeiro lugar é preciso descobrir qual país depende mais do outro em termos comerciais. Não há dúvida de que o mercado americano é respeitável em termos de negócios, mas os EUA tornaram-se dependentes dos produtos chineses.

Interromper os negócios com a China, como sugere Donald Trump, não é algo tão fácil e simples quanto acender as luzes do Salão Oval da Casa Branca. Sem contar que os EUA necessitam dos produtos chineses para continuar funcionando e existindo comercialmente.

Ademais, estabelecer novas relações comerciais internacionais é tarefa árdua, minuciosa e que demanda tempo. Por outro lado, a elevação das tensões entre a Coreia do Norte e os EUA tem servido para Kim Jong-un se cacifar politicamente com seus parceiros, que diante do quadro atual despejarão cada vez mais dinheiro nos cofres do regime de Pyongyang.

Não obstante, é necessário confirmar se de fato Kim Jong-un conseguiu desenvolver armamentos nucleares, em especial uma bomba de hidrogênio, cuja capacidade de destruição é descomunal, pois ninguém pode ignorar o blefe soviético durante a chamada “Guerra Fria”. (Com agências internacionais)

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