Epopeia dos recibos de aluguel ganha contorno de filme de suspense e deve dar a Lula nova condenação

Até o surgimento do escândalo dos recibos de aluguel, o maior problema do alarife Lula era, sem dúvida alguma, o sítio Santa Bárbara, em Atibaia, cuja propriedade o petista não terá como negar diante das autoridades que atuam nos processos decorrentes da Operação Lava-Jato.

Erros de ortografia e datas que não existem no calendário foram suficientes para levantar suspeitas sobre a veracidade dos documentos, situação que levou o “dono” do imóvel, Glaucos da Costamarques, a afirmar ter assinado 26 recibos um só dia, quando estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para uma cirurgia cardíaca. Ou seja, o advogado Roberto Teixeira e o contador de Lula aproveitaram a fragilidade da saúde de Costamarques para exigir que os recibos fossem assinados.

Nada do que aconteceu nesse episódio foi por acaso, pelo contrário. A investida contra Glaucos da Costamarques foi minuciosamente pensada e a deflagração da operação se deu logo após a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e primo em terceiro grau do proprietário de direito (não de fato) do polêmico apartamento em São Bernardo do Campo, no Grande ABC.

Os advogados de Lula, que até agora ninguém sabe como são remunerados, apresentaram à Justiça Federal do Paraná, mais precisamente ao juiz Sérgio Moro, cópias dos malfadados recibos, o que impede a realização de perícia para atestar a autenticidade dos documentos. Em suma, além do nexo temporal que marca essa ação típica de mafiosos, os advogados de Lula valem-se da tese de que a responsabilidade pela autenticidade dos documentos é de quem os assina.

Malandro experimentado desde os tempos de atividade sindical, Lula sabe que o cerco fecha-se cada vez mais no seu entorno. Por mais que o arrogante advogado Cristiano Zanin Martins tente se valer de um sem fim de chicanas jurídicas para tentar provar a inocência do responsável pelo maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, a situação de Lula no caso em questão tende a piorar com o passar dos dias.


 

Contra a estratégia de defesa do petista há os depoimentos de dois delatores considerados cruciais no âmbito da esperada condenação e consequente prisão de Lula: Marcelo Odebrecht e Antonio Palocci Filho. Contando os dias que faltam para deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba e migrar para a prisão domiciliar, Marcelo Odebrecht, que já teve a delação homologada, não colocaria tudo a perder apenas para salvar a pele de um criminoso que é dragado pela desconexão da própria fala.

Por outro lado, as informações preliminares da delação de Antonio Palocci são tão arrasadoras quanto a carta em que o ex-ministro da Fazenda pede a sua desfiliação do Partido dos Trabalhadores, que a história recente mostrou ser uma organização criminosa cujo projeto era manter-se no poder durante longos anos às custas do dinheiro da corrupção.

Palocci acabou com os últimos fios de esperança de Lula em relação a eventual absolvição nas demais ações penais a que responde, ao mesmo tempo em que escancarou o modus operandi da legenda, que o próprio delator sugeriu ser uma seita comandada por suposta divindade.

Não obstante, considerada a idade avançada, Glaucos da Costamarques não terá outra saída, que não admitir que entrou nessa epopeia criminosa com a incumbência de ser o “laranja” do ABC. Não se pode esquecer que Costamarques já deu versões distintas a respeito do tal apartamento. Disse inicialmente que comprara o imóvel a pedido do primo Bumlai. Na sequência, em nova versão da “pataquada”, alegou que adquiriu o apartamento por sugestão de Roberto Teixeira, compare de Lula. Disse também que os valores dos alugueis foram descontados de acertos pendentes com Teixeira. Por fim, ao juiz Sérgio Moro, o “laranja” de Lula afirmou que até novembro de 2015 não recebeu um só centavo pela locação do imóvel, apesar de ter informado os valores à Receita Federal.

Assim como qualquer cidadão encrencado com a Justiça criminal, Lula não tem a obrigação se ser réu confesso, mas diante do desenrolar dos fatos o melhor que o ex-metalúrgico pode fazer é jogar a toalha e começar a arrumar a mochila, pois a prisão o espera de portas e trancas abertas. Não sem antes aceitar a ideia de que o PT, o partido que resgataria a ética no País, rui à sombra da roubalheira sistêmica.

 

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