Líder catalão pede mediação, mas não cede em relação à independência

(Sandra Lázaro)

Em meio a uma crise na Espanha após a realização do referendo pela independência da Catalunha, no último domingo (1), o presidente do governo catalão, Carles Puigdemont, afirmou nesta quarta-feira ser favorável ao diálogo com o Estado espanhol para solucionar o embate.

“Esse momento exige mediação. Vou repetir quantas vezes for necessário: diálogo e acordo fazem parte da cultura política de nosso povo”, declarou o líder em discurso transmitido pela televisão. Segundo ele, porém, “o Estado não deu nenhuma resposta positiva a essas ofertas”.

Apesar da abertura ao diálogo, Puigdemont não cedeu em relação à causa separatista, afirmando que “hoje estamos mais certos do que ontem de nosso desejo histórico” de ser um Estado independente.

Em seu discurso, o líder catalão ainda lançou críticas ao rei Felipe VI, que se pronunciara sobre o referendo na noite de terça-feira, descrevendo as autoridades da Catalunha como “irresponsáveis” e “desleais” por terem realizado a consulta popular, indo contra a decisão da Justiça.

Puigdemont afirmou que o monarca “decepcionou muita gente” por “dirigir-se apenas a uma parte” da população e acusou Felipe VI de adotar a mesma retórica do governo em Madrid, a qual considera “catástrofica” em relação à Catalunha.

Nas últimas horas – especialmente após o discurso do rei em defesa da unidade espanhola –, foram várias as iniciativas a favor de algum tipo de mediação entre os governos da Espanha e da Catalunha, inclusive do Parlamento Europeu, que fez um apelo ao diálogo nesta quarta-feira.

Madrid, por sua vez, não cede ao diálogo. Em nota divulgada após o discurso de Puigdemont, o governo espanhol afirmou que não haverá negociação até que o líder catalão abandone a campanha pela independência. “Se o senhor Puigdemont quer dialogar, negociar ou enviar mediadores, ele sabe perfeitamente o que deve fazer antes disso: voltar a respeitar a lei.”

Mais cedo, na quarta-feira, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, havia rejeitado uma proposta do líder do Podemos, Pablo Iglesias, para que fosse iniciada uma mediação entre Madri e os independentistas da Catalunha. O chefe de governo disse que não vai discutir com quem fez “uma chantagem tão brutal ao Estado”.


Independência

Os líderes do governo regional da Catalunha anunciaram nesta quarta-feira que devem dar início na próxima semana ao pedido de declaração unilateral de independência da Espanha.

O Parlamento da Catalunha realizará na próxima segunda-feira, 9 de outubro, uma sessão para debater pela primeira vez os resultados do referendo separatista realizado no fim de semana passado – considerado inconstitucional pelo governo em Madri e que elevou as tensões no país.

Segundo definiram os parlamentares, o único ponto da ordem do dia será o comparecimento de Puigdemont à sessão. Ele entregará ao Parlamento os resultados da consulta popular, que mostram um apoio amplo à independência.

Apesar de a instituição não ter mencionado especificamente a declaração de independência, líderes catalães deixaram claro que essa é a intenção do governo regional caso sejam considerados oficiais os resultados do referendo.

A lei catalã sobre o referendo afirma que, dois dias após a oficialização dos resultados, o Parlamento deve realizar uma sessão para que seja efetuada uma declaração formal de independência da Catalunha. Tanto a lei regional como a convocação do referendo foram suspensas pela Suprema Corte da Espanha.

O governo regional catalão afirma que 90% dos eleitores votaram pelo “sim” no referendo de domingo passado. O número, porém, não representa a visão da maioria da população local, já que apenas 42% dos eleitores, ou 2,2 milhões de pessoas, foram às urnas.

O órgão responsável pelo monitoramento das eleições na Espanha rejeitou a validade dos resultados e comunicou sua decisão aos governos em Madrid e Barcelona e a vários órgãos europeus, bem como à Organização das Nações Unidas. (Com agências internacionais)

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