Líder catalão, Puigdemont suspende independência e declara-se aberto ao diálogo com Madrid

(A. Gea – Reuters)

O chefe de governo da Catalunha, Carles Puigdemont, declarou nesta terça-feira (10) a independência dessa região da Espanha, ao “assumir o mandato conferido pelo povo” no referendo de 1º de outubro, mas suspendeu seus efeitos para abrir um processo de diálogo com o governo espanhol.

“A Catalunha ganhou o direito de ser um Estado independente na forma de uma república”, afirmou Puigdemont durante o seu discurso de 25 minutos, proferido logo após a abertura de uma sessão do Parlamento regional da Catalunha. O discurso dele era o único ponto da agenda do dia.

“Assumo o mandato do povo para que a Catalunha se torne um Estado independente em forma de república”, disse o líder separatista. “É isso que fazemos hoje com toda solenidade”. Em seguida, acrescentou: “Com a mesma solenidade, propomos que o Parlamento suspenda a declaração de independência para empreender um diálogo para se chegar a uma solução acordada. Se todos atuarem com responsabilidade, o conflito poderá ser resolvido de forma serena. Se depender de nós, assim será”.

“Não somos loucos”

No início do seu discurso, Carles Puigdemont comentou a violência da polícia contra pessoas que foram votar no referendo. “Todos vimos, o mundo viu. O objetivo não era apenas confiscar urnas, era provocar o pânico generalizado para que as pessoas ficassem em casa e não fossem votar.”

Ele também sublinhou os repetidos apelos ao diálogo e as várias ofertas de mediação, “algumas públicas, outras não”. “Não somos delinquentes, não somos loucos, não somos golpistas. Somos gente normal, que pede para votar”, disse. “Não temos nada contra a Espanha e os espanhóis. Ao contrário”, acrescentou.

Puigdemont falou aos deputados catalães depois que um referendo de independência – considerado ilegal por Madrid – foi realizado em 1º de outubro e cujo resultado o Executivo catalão quer tornar efetivo. A polícia cercou o Parlamento regional catalão, em Barcelona, por questões de segurança. Uma multidão acompanhou o discurso num telão do lado de fora do Parlamento.

Pouco depois do horário previsto para o discurso de Puigdemont, às 18h (13h em Brasília), o início da sessão e a fala dele foram adiados em uma hora. Segundo a imprensa espanhola, o atraso se deu por divergências entre Puigdemont e o partido de esquerda CUP, do qual o governo depende.


Pedidos para desistir

Nos últimos dias, os pedidos para que Puigdemont abandone seu projeto de declarar unilateralmente a independência vêm aumentando, tanto no âmbito político como no empresarial, e na manhã desta terça-feira foi a vez do porta-voz do Executivo espanhol, Íñigo Mendez de Vigo, pedir a Puigdemont para que não comece “algo irreversível”.

“É um momento de reflexão. Quero pedir ao senhor Puigdemont para que não faça nada irreversível, que não empreenda nenhum caminho que não tenha volta, que não faça nenhuma declaração unilateral de independência, que volte à legalidade, que volte ao diálogo no Parlamento da Catalunha”, disse o porta-voz do governo espanhol.

Em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, apelou a Puidgemont para que respeite a ordem constitucional e não faça um anúncio de independência, que dividirá a Espanha. Sublinhando que “são tempos extraordinários para a Catalunha e toda a Espanha”, Tusk pediu a Puidgemont que “não anuncie uma decisão que torne o diálogo impossível”, referindo-se à necessidade de conversações entre Madrid e Barcelona.

Em Barcelona, o governo catalão se reuniu horas antes da sessão no Parlamento regional e o conselheiro da presidência catalã, Jordi Turull, não quis adiantar qual será a proposta que Puigdemont vai apresentar aos parlamentares. No entanto, Turull assegurou que existe um “consenso” no governo regional em torno da declaração que será feita por Puigdemont.

O referendo, considerado ilegal pela Justiça espanhola, deu vitória ao “sim” pela independência, com 90% dos votos. Porém, o comparecimento foi de apenas 43%. Depois do resultado, Puigdemont disse que os catalães conquistaram o direito de ter um Estado independente em forma de república. (Com agências internacionais)

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