Congresso abre espaço para falso moralismo de políticos e partidos que chafurdam na lama da corrupção

Derretendo no vácuo de uma crise múltipla institucional sem precedentes, na qual a interpretação da lei se dá de acordo com o interesse e o poder de fogo do “cliente”, o Brasil vive mais uma semana de inocuidades na seara política. Depois de mais um feriado prolongado, a grande chaga tupiniquim, o Congresso retomou as atividades legislativas para nada. Senadores se movimentaram para decidir o futuro de Aécio Neves (PSDB-MG), enquanto deputados federais se engalfinham na órbita da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB).

Em ambos os casos, o rito de análise dos processos segue o que manda a legislação vigente no País, mas todos são unanimes em afirmar que o julgamento é político. Ora, se essa é a plataforma de análise, essas encenações que têm lugar em conselhos de Ética e comissões de Justiça servem para nada. Na melhor das hipóteses, servem para um partido aspergir peçonha na direção de legenda adversária ou para um político salvar outro.

Nesta fatídica terça-feira (17), que serviu para que o ordenamento jurídico nacional fosse novamente ultrajado, o que se viu no Congresso foi um bando de delinquentes conhecidos dando lições de moral na camarilha adversária, como se o cidadão não conhecesse a realidade dos fatos.

Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, que discute o relatório sobre a denúncia contra Temer, o ponto alto ficou a cargo do “globetrotter” Paulo Salim Maluf (PP-SP), que acabou por invocar o moralismo de ocasião para passar carraspanas aqui e acolá. No momento em que Maluf, já condenado por envolvimento em escândalos de corrupção, passa a dar lições de moral, é porque o Brasil acabou e o último corajoso não avisou aos camaradas.

A ópera bufa na CCJ da Câmara não ficou nisso, até porque ninguém quer perder a oportunidade de lançar sobre a opinião pública pílulas de ética e moralidade. Sem contar que a sensação de vingança que domina a esquerda raivosa é indisfarçável. O PT e seus puxadinhos ideológicos garantem que nem de longe querem vingar o impeachment de Dilma Rousseff, mas os “companheiros” não conseguem esconder o ar de satisfação ao lançar dardos na direção de Michel Temer, sempre classificado como golpista.

Se Lula, Dilma Rousseff e os avermelhados aduladores da “companheirada” não tivessem patrocinado lambança tão impressionante e devastadora, talvez a população ainda estivesse convivendo com aquela roubalheira suave (sic) e sistêmica que quase não incomodava. Partidos de esquerda que sempre apoiaram o furdunço petista aproveitaram a sessão da CCJ para falar em quadrilha, corrupção, organização criminosa e outros quetais. Como se o PT não fosse responsável pelo maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.

No outro lado do Congresso, no plenário anil do Senado, parlamentares se revezaram na tribuna do plenário para ataques e afagos a Aécio Neves, o senador tucano que foi flagrado em telefonema cobrando propina de R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista.

Os defensores de Aécio, controlados remotamente pelo Palácio do Planalto, abusaram da capacidade de raciocínio do brasileiro, encheram o peito para falar em respeito à Constituição, defesa da democracia, independência dos Poderes constituídos e outras balelas discursivas. Apenas para resgatar a memória dos leitores, 15% dos senadores (13 ao todo) estão na mira da Operação Lava-Jato e dos seus desdobramentos.


Aécio Neves recebeu a propina em quatro malas de dinheiro, com a promessa de conter o avanço das investigações da Lava-Jato, mas alguém disse que o senador mineiro não representa uma ameaça à sociedade. Ou seja, Aécio “bateu a carteira” de Joesley e quer ser tratado como excelência e preservar direitos. Em qualquer país minimamente sério – não é o caso do Brasil – o senador mineiro já teria perdido o mandato e estaria devidamente preso. Como as leis são feitas na extensa maioria das vezes para beneficiar legisladores criminosos, Aécio Neves em breve estará desfilando pelos corredores do Senado.

Assim como na CCJ, a sessão do Senado também teve seu ponto alto. Esse ápice de imoralidade ficou por conta do senador Humberto Costa (PT-PE), que abriu seu discurso falando em respeito à Constituição. O senador pernambucano talvez não se recorde que no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, no plenário do mesmo Senado, o PT operou com o ministro Ricardo Lewandowski para, violando a Constituição, preservar os direitos políticos da agora ex-presidente da República.

Mas Humberto Costa não se fez de rogado e foi além em sua parafernália discursiva. “Nós não estamos discutindo aqui a conduta do parlamentar que jogou a democracia brasileira no lixo, que não aceitou um resultado eleitoral justo, correto e que disse que, por brincadeira, questionou o resultado das eleições. Não está em julgamento aqui a conduta desse parlamentar que incentivou o ódio na sociedade brasileira durante todo esse período.”

Para Costa, o fato de a população ter se rebelado contra a roubalheira desenfreada inaugurada por Lula e sua turba é cultivação do ódio por parte dos opositores, como se os brasileiros tivessem o dever de permanecer calados enquanto são assaltados diuturnamente.

E o petista pernambucano não parou por aí: “O que nós estamos discutindo agora é uma questão de uma conduta concreta. E que conduta é essa? Um senador solicitando a um empresário investigado uma vantagem financeira no valor de R$2 milhões, segundo ele, para pagar advogado. E até hoje não provou que era para pagar advogado. Rastreado esse recurso, comprovou-se que foram recursos efetivamente dirigidos a esse senador”.

O que Humberto Costa tem a dizer sobre o Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, o triplex no Guarujá e o apartamento contíguo ao do “patrão” Lula, em São Bernardo do Campo? Talvez o senador diga que isso é invenção da imprensa golpista e do persecutório (sic) juiz Sérgio Moro.

Não contente, Humberto Costa avançou em seu besteirol esquerdista. “O que está em jogo, senhores senadores, é o fato de que, segundo a denúncia da PGR, o senador Aécio recebeu uma vantagem indevida de R$60 milhões, em 2014, por meio de notas frias, para o pagamento a diversos partidos, para ingressarem na coligação da candidatura presidencial. Em contrapartida, o senador teria usado do mandato para beneficiar o Grupo J&F na liberação de créditos de ICMS”.

Costa parece não se lembrar do Mensalão do PT, primeiro escândalo de corrupção da era Lula. O marqueteiro Duda Mendonça, responsável pela campanha presidencial petista de 2002, afirmou durante depoimento na CPMI dos Correios que recebeu parte dos honorários de campanha em conta bancária registrada em nome da offshore Düsseldorf. O responsável por esse pagamento e outros tantos foi Marcos Valério Fernandes de Souza, que usou notas frias para “esquentar” o dinheiro frio da roubalheira petista.

Mesmo assim, os brasileiros de bem tiveram um momento de alívio nessa opera bufa que se instalou no plenário do Senado. A presidente do PT, senadora Gleisi Helena Hoffmann, está em viagem oficial e por isso não participou da sessão de votação que devolveu o mandato a Aécio Neves. Se por um lado os cidadãos escaparam do discurso bolivariano de Gleisi Helena, por outro a própria senadora não passou pelo constrangimento de ouvir alguns “camaradas” da esquerda condenando atos de corrupção.

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