Votação que barrou denúncia contra Temer foi degradante e envergonhou até as experientes marafonas

Infelizmente a política nacional chegou ao ponto mais alto da degradação, fazendo com que os brasileiros contemplem o distanciamento contumaz da esperança. O que se viu na sessão de quarta-feira (25) da Câmara dos Deputados, que decidiu pela rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer, foi uma ópera bufa sem precedentes.

Quem conhece os bastidores do Congresso Nacional sabe que a mencionada sessão foi um atentado ao bom senso, pois em jogo estavam os interesses de políticos movidos pelo fisiologismo e principalmente pelo “toma lá, dá cá”. Sem contar os oportunistas de plantão que entoaram discursos nauseantes e recheados de falso moralismo, como se a sociedade desconhecesse a dura realidade verde-loura.

Muito se falou no plenário da Câmara dos Deputados durante doze horas sobre a liberação de emendas parlamentares como forma de o Palácio do Planalto conseguir os votos necessários para barrar a denúncia contra o presidente da República, mas é preciso salientar que esses recursos são oficiais e fazem parte do chamado orçamento impositivo. Ou seja, não procede a tentativa de deputados da oposição de vender a ideia de que o governo liberou dinheiro vivo aos parlamentares.

Ainda em relação às emendas parlamentares, muitos deputados da oposição raivosa também tiveram emendas liberadas pelo governo de Michel Temer, o que invalida o discurso incendiário de alguns. O contingenciamento das emendas pode não parecer normal a olhos legalistas, mas é prática comum no Parlamento. E muitos dos partidos que criticaram a manobra valem-se do mesmo expediente nos estados e municípios. Até porque, para a infelicidade da população, a política brasileira funciona dessa maneira.


A distribuição de cargos aos deputados da base aliada também é comum, apesar de ser uma prática condenável, pois a inchada máquina federal precisa de pessoas capacitadas, não de apaniguados emoldurados muitas vezes pela incompetência. Mesmo assim, os que criticaram essa medida já se beneficiaram no passado, quando Lula e Dilma Rousseff acionavam a cantilena do “presidencialismo de coalizão” para justificar o loteamento da máquina.

Repugnante e condenável, esse modelo de gestão ganhou força depois da eclosão do primeiro escândalo de corrupção da era petista, o Mensalão do PT. A partir do imbróglio de pagamento de mesadas em troca de apoio no Congresso, o PT adotou o sistema de entrega de ministérios e outros cargos com direito a porteira fechada. Em suma, o beneficiado teria de arcar com o bônus e o ônus da benesse.

O que mais chamou a atenção na votação de quarta-feira foi a postura covarde de alguns deputados, que até recentemente estavam pendurados na estrutura federal por meio de indicados. Parlamentares que tiveram seus apadrinhados ejetados da máquina federal pelos mais distintos motivos acabaram não apenas votando pelo prosseguimento da denúncia, como também bradaram o “Fora, Temer”. Ora, se até dias atrás o presidente da República era um “bom camarada” para muitos, como ele pode se transformar em persona non grata?

Assim como outros procedimentos legislativos, a análise da denúncia em questão é, dizem os mais experimentados, um julgamento político, quando na verdade deveria ser alvo de julgamento jurídico. Afinal, é preciso respeitar a legislação vigente e o Estado Democrático de Direito. Contudo, o Brasil deparou-se com mais um escambo criminoso, no qual alguns parlamentares mudaram de lado com a mesma facilidade com que uma meretriz troca de lupanar.

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