Alckmin está perto de xeque-mate em Doria, que tropeça em seu plano de chegar ao Palácio do Planalto

Subiu no bonde pela primeira vez e quer sentar à janela. Essa expressão popular e largamente conhecida traduz com precisão o pensamento político do tucano João Doria, prefeito da maior cidade brasileira, São Paulo.

Considerado “cristão novo” no PSDB, Doria tomou a conquista da prefeitura paulistana, em 2016, como o maior trunfo de todos os tempos. É fato que João Doria conseguiu impedir a reeleição do petista Fernando Haddad, mas isso só foi possível por dois motivos distintos: o então candidato tucano era novidade em termos eleitorais e a rejeição ao PT foi turbinada na esteira do escândalo de corrupção conhecido como Petrolão.

Acreditando ser uma versão moderna e tropical de Messias, o alcaide paulistano trocou os afazeres na capital por périplos nacionais e internacionais com o objetivo de ganhar visibilidade política e reforçar um cacife eleitoral que foi evaporando com o tempo.

Nessa empreitada marcada por ousadia e desconhecimento político, Doria pensou ser possível fazer sombra a Geraldo Alckmin, governador da mais importante unidade da federação e perto de ser escolhido como candidato do PSDB à Presidência da República. Alckmin está muito aquém do candidato que os brasileiros buscam, mas é preciso reconhecer que política é um jogo bruto e difícil que exige conhecimento e destreza.

A trajetória de Geraldo Alckmin está longe de ser fruto de tolice política. Aliás, de “bom samaritano” Alckmin só tem a estampa. Longe de ser um tocador de obras como nos velhos tempos, o governador de São Paulo opera com intimidade de sobra nos bastidores do poder. Isso significa que João Doria errou ao tentar desbancá-lo.


Mas os equívocos de Doria não pararam por aí. Há dias, o prefeito exonerou Fábio Lepique, então secretário-adjunto da Secretaria de Prefeitura Regionais, que até recentemente estava sob a batuta de Bruno Covas, o vice. Lepique foi contra a reabertura do polêmico Shopping 25 de Março, localizado na região homônima, enquanto Doria e alguns secretários posicionaram-se a favor do estabelecimento que comercializa produtos contrabandeados e pirateados.

Na esteira da exoneração de Lepique, o prefeito transferiu Bruno Covas para a Casa Civil. Há nesse movimento estabanado de João Doria alguns detalhes a serem considerados. Bruno é neto do ex-governador Mario Covas, cuja morte permitiu que Alckmin ocupasse o Palácio dos Bandeirantes e fosse reeleito ao cargo. O que se repetiu em nova ocasião. Ou seja, Geraldo Alckmin tem enorme apreço político e pessoal por Bruno Covas. E Doria colocou a mão no vespeiro.

Mesmo com seu semblante de estafeta de sacristia, Alckmin conhece como poucos o jogo da política. E não demorou muito para lançar o nome de Bruno Covas à sua sucessão. Acontece que João Doria, que não decolou nas pesquisas para a Presidência da República, passou a considerar a possibilidade de participar da corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Tarde demais, pois José Serra também está disposto a entrar no páreo.

De olho no Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin passou a ser cortejado por uma ala do tucanato para assumir a presidência nacional do PSDB, no lugar do senador Tasso Jereissati, que ocupa o cargo interinamente na esteira do afastamento do enrolado Aécio Neves. E se isso acontecer, a situação de João Doria dentro do partido deve piorar.

Sem compreender o enxadrismo em que se transformou a política brasileira, situação mais gravosa por conta da dimensão continental do País, Doria agora ousa afirmar que não descarta a possibilidade de ser candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin. Nenhuma candidatura à Presidência da República tem chance de sucesso sem um representante da região Nordeste e no vácuo de uma coligação. O discurso de chapa pura – formada apenas por tucanos paulistas –, vociferado por Doria, é sonho de neófito na política em chuvosa noite de primavera.

João Doria deveria tentar solucionar os graves e cumulativos problemas da cidade de São Paulo, mas o prefeito está disposto a levar um xeque-mate do governador Geraldo Alckmin, que, caipira da gema, agiu em silêncio e agora “come pelas beiradas”.

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