Aprovação de leis focadas na segurança pública não substitui políticas sociais ignoradas pelo Estado

Gostem ou não os brasileiros, o Brasil tornou-se o paraíso do faz de conta. O grande problema é que a população aceita esse cenário com impressionante passividade, como se nada pudesse ser feito para mudar o status quo.

Com a folga de dez dias concedida aos deputados federais, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alegou que o custo de convocar votação ao longo desta semana seria maior do que o ócio remunerado. Ao presidente da Casa pouco importa as muitas matérias que estacionadas no legislativo à espera de aprovação.

Para reforçar seu nada convincente argumento, Maia disse que os deputados compensaram a folga com trabalho redobrado na semana anterior, quando foram aprovados projetos voltados à segurança pública. Como, por exemplo, endurecimento das regras para a progressão de regime, redução das saídas temporárias de presidiários, entre outras.

Como sempre acontece, parlamentares resolvem se mexer depois da instalação do caos, ou seja, colocam o cadeado na porta após o arrombamento da casa. As matérias em questão só foram levadas a plenário por conta do avanço da insegurança no Rio de Janeiro, onde traficantes continuam dando a palavra final em muitas comunidades carentes, como na favela da Rocinha, na zona sul carioca.


É preciso reconhecer que a criminalidade precisa ser combatida, ao mesmo tempo em que é importante garantir a segurança do cidadão, mesmo que em doses mínimas, mas não se pode fechar os olhos para a realidade social do País. Ou os políticos empenham-se para criar programas sociais que garantam a cidadania em patamar raso e evitem o ingresso do cidadão no mundo do crime, ou as leis aprovadas recentemente servirão para nada.

A melhor demonstração desta tragédia anunciada aconteceu no último final de semana, no autódromo de Interlagos, na capital paulista, onde foi realizado o Grande prêmio Brasil de Fórmula 1. No sábado (11), logo após o treino classificatório, integrantes das equipes Mercedes e Sauber foram assaltados, sendo obrigados a entregar aos assaltantes todos os pertences (dinheiro, passaportes, celulares e outros objetos). Uma van com integrantes da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) também foi abordada pelos criminosos, mas o veículo era blindado e o motorista conseguiu escapar.

Apenas para confirmar nosso desabafo, a região do autódromo de Interlagos foi palco, somente neste ano, de quase 800 roubos, ou seja, mais de dois crimes do tipo por dia. O estrago que surgiou no rastro dos assaltos às equipes da F! foi tamanho, que ter reforçado a segurança no local sairia mais barato.

De nada adianta combater pontualmente a criminalidade, caso isso seja possível, se na outra ponta o Estado falhar na adoção de políticas sociais efetivas, como educação, saúde, transporte e geração de emprego, entre tantos quesitos. Se nada for feito imediatamente nesse campo, torna-se impossível pensar em país razoavelmente digno e seguro no médio prazo. Ações de curto prazo têm efeito paliativo e eleitoral.

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