Zimbábue: Mugabe perde liderança do partido e recebe prazo para renunciar à presidência do país

O Comitê Central da União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (ZANU-PF) decidiu, em reunião extraordinária realizada no domingo (19), destituir o ainda presidente do país africano como líder da legenda e substituí-lo pelo ex-vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, afastado do cargo há duas semanas por Robert Mugabe.

O ministro das Finanças, Patrick Chinamasa, anunciou ainda que Mugabe recebeu prazo até o meio-dia desta segunda-feira (hora local) para renunciar à presidência do país. Caso contrário, será iniciado o processo de sua deposição do cargo.

O afastamento de Mnangagwa havia desencadeado uma série de reações, culminando com a intervenção do exército, que tomou o controle do poder e impediu Mugabe, de 93 anos, de continuar as manobras políticas para que sua esposa, Grace, o substituísse na presidência do país.

Grace Mugabe também foi expulsa do mesmo partido, bem como dois dos ministros mais próximos de Robert Mugabe. Na reunião do Comitê Central, órgão encarregado de tomar as decisões na ZANU-PF, oito dos dez comitês coordenadores provinciais do partido manifestaram-se a favor da destituição de Robert Mugabe devido à “incapacidade” provocada pela sua idade avançada.

Na abertura da sessão, em Harare, o ministro do Interior, Obert Mpofu, defendeu que, apesar de Robert Mugabe ter desempenhado um papel valioso no Zimbábue, a esposa e outras pessoas próximas estão “se aproveitando” para se posicionarem na sucessão presidencial.


Intervenção militar

Há dias que Mugabe está confinado em sua residência, enquanto ocorrem negociações políticas sobre seu afastamento. Ele está no poder há 37 anos – somando os cargos de primeiro-ministro e presidente. No último sábado (18), milhares de zimbabuanos saíram às ruas para protestar contra a manutenção de Mugabe no poder.

A decisão tomada na reunião de urgência do Comitê Central da ZANU-PF abre, assim, caminho a reintegração de Mnangagwa, que, por sua vez, deverá assumir a liderança de um novo governo até as eleições gerais de 2018. Os militares parecem defender a renúncia voluntária de Robert Mugabe para manter a legalidade na transição política.

“Gucci Grace”

Os militares, liderados pelo chefe de gabinete, Constantino Chiwenga, justificaram sua intervenção sem violência na quarta-feira dizendo que, caso contrário, Mugabe levaria sua esposa, Grace, de 52 anos, como sucessora na presidência. A ex-secretária de Mugabe é conhecida por seu comportamento impulsivo, suas roupas caras e viagens para compras extravagantes, o que a levou a receber o apelido “Gucci Grace”.

Nos anos 70, Mugabe liderou a guerrilha contra o regime racista da minoria branca que comandava a Rodésia do Sul, o antigo nome do país. Em 1980, ele se tornou chefe de governo e assumiu a presidência em 1987. Seus opositores o acusam de manter um estilo de governo autoritário e o responsabilizam de má gestão. (Com agências internacionais)

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