Alckmin tem o desafio de reunificar o PSDB, mas programa partidário evidencia racha no tucanato

Governador do mais importante estado da federação, São Paulo, Geraldo Alckmin é o candidato natural do partido na corrida presidencial de 2018, mas até lá tem a espinhosa missão de tentar reunificar um partido político que ruiu nos últimos anos na esteira de uma cizânia de longa data e de escândalos pontuais de corrupção.

Se Alckmin conseguirá essa missão hercúlea não se sabe, mas é possível afirmar que a indicação de seu nome para presidir a legenda ainda não foi assimilada pelos tucanos de fina plumagem. Essa suposta resistência se fez presente no documento divulgado pelo PSDB que traz o novo programa partidário, elaborado pelo Instituo Teotônio Vilela (ITV).

Considerando que Geraldo Alckmin será oficializado no começo de dezembro como presidente do PSDB e até março anunciado como candidato do partido ao Palácio do Planalto, o mínimo que os tucanos do ITV deveriam ter feito era ter consultado previamente o governador paulista. O que não aconteceu, pois a soberba que reina no ninho tucano é nauseante e insuportável.

O ITV é presidido por José Aníbal, conhecido por sua devastadora arrogância e ligado aos senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Como é de conhecimento público, Aníbal, Aécio e Serra mantêm relação meramente formal com Alckmin.


Caso queira participar da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista, Serra terá de se aproximar de Geraldo Alckmin, mesmo contra vontade. O mesmo caminho deverá ser seguido por José Aníbal, caso queira manter-se nas primeiras fileiras da vitrine do tucanato.

O desafio lançado a Alckmin não é pequeno e há quem duvide da capacidade do PSDB de se reinventar em tão pouco tempo e, simultaneamente, convencer o eleitorado de que o partido tem condições de recolocar o País nos eixos ao longo dos anos vindouros. Lembrando que o próximo presidente da República encontrará um governo que saiu do coma, mas permanecerá na UTI por muitos anos.

O novo programa partidário do PSDB é tão fraco quanto vazio, pois não define a posição do partido em termos econômicos, sociais e ideológicos. Precisando ressurgir na cena política nacional com nova plumagem, os tucanos não sabem para que lado olhar. Tentam flertar com a esquerda moderada no momento em que essa corrente ideológica enfrenta a intolerância da população, ao mesmo tempo em que dispara olhares na direção dos direitistas, que de certa forma assustam parte do eleitorado.

Ademais, o documento escancara a indefinição do partido com a frase “nem Estado mínimo, nem máximo, estado musculoso”. Ora, o PSDB ressaltou no tal programa a necessidade de promover um “choque de capitalismo”, sugestão de Mário Covas por ocasião de sua candidatura à Presidência, em 1989, mas desdiz-se com a frase citada. Ou seja, os tucanos continuam em cima do muro.

Há na órbita do documento lançado pelo ITV um detalhe que reforça a histórica divisão interna no PSDB: nenhum economista ligado ou filiado ao partido foi consultado antes da finalização do programa. Esse é um sinal preocupante, pois mostra que não será tarefa simples reunificar o partido e aglutinar o tucanato em torno da candidatura de Geraldo Alckmin.

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