Policiais invadiram a favela Rocinha com “touca ninja”, mas fazem “selfies” ao lado de traficante preso

Queiram ou não os cidadãos, o Brasil, como acertadamente afirma o jornalista José Simão, é o país da piada pronta. Um traficante graúdo instalou o terror na maior favela do planeta apenas porque queria controlar o comércio de drogas na região, exigindo das autoridades a mobilização de legiões de policiais civis, militares e das Forças Armadas, mas o criminoso parece ser referência para muitos dos que o estavam caçando.

Chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Rogério Avelino dos Santos, conhecido no mundo do crime como “Rogério 157”, foi preso na manhã desta quarta-feira (6), na Zona Norte carioca, após tentar subornar os policiais. Rogério não ofereceu resistência e nem estava armado no momento da prisão, mas, a depender da vontade das autoridades fluminenses de segurança, será transferido para um presídio federal.

Procurado pelos crimes de tráfico de drogas, associação ao tráfico, extorsão e homicídios, Rogério 157 é acusado de ser um dos responsáveis pela “guerra” que tomou contra da Rocinha, provocando mortes e dificultando o funcionamento do comércio local e o acesso de moradores às suas casas.

O confronto com a facção rival (Amigos dos Amigos – ADA) comandada pelo também traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o “Nem da Rocinha”, que está preso em presídio federal em Rondônia, deixou 20 mortos e pelo menos 14 feridos desde o mês de setembro.

Consumada a prisão do traficante que era o mais procurado do Rio de Janeiro e com o criminoso nas dependências policiais, os agentes de segurança que o prenderam não perderam a oportunidade e tiraram “selfies” ao lado de Rogério 157. O que mostra que o Brasil está longe de ser um país minimamente sério.


Publicadas nas redes sociais, muitas das fotos trazem policiais sorridentes ao lado do traficante, que parece estar tranquilo, apesar da privação de liberdade. Em uma das fotos, uma policial chega a encostar a cabeça no ombro de Rogério 157, em cena que sugere intimidade.

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Roberto Sá, ao ser questionado pelos jornalistas sobre as “selfies”, disse que os policiais que tiraram fotos ao lado do traficante da Rocinha serão investigados pela Corregedoria Interna da Polícia Civil. Sá afirmou que “houve uma euforia dos policiais, mas é possível que se tenha passado do ponto”.

“Não deve glamourizar criminosos, ele é mais um dos 4 mil criminosos que a polícia prende por mês. Foi uma prisão emblemática, houve uma euforia, mas pelas fotos é possível que se tenha passado do ponto. Mas temos que entender a euforia e evitar qualquer tipo de atitude que possa glamourizar esses criminosos”, disse o secretário.

De chofre é preciso investigar policiais que ficam eufóricos com a prisão de um criminoso, pois esse comportamento não coaduna com a responsabilidade e o equilíbrio necessários a um agente de segurança pública. Ou seja, os policiais movidos pela euforia precisam ser afastados.

Por outro lado, causa espécie o fato de os policiais terem invadido a favela da Rocinha usando balaclava (touca ninja), como forma de preservar a identidade, mas no momento da prisão de Rogério 157 fazerem “selfies” publicadas imediatamente nas redes sociais. Trata-se de incongruência devastadora ou de exibicionismo barato ao lado de famosos no mundo do crime.

Não bastasse a conhecida ausência do Estado em muitos setores – o que permite o avanço cada vez maior do crime organizado e a perpetração do chamado Estado paralelo – policiais creem que criminoso é troféu. Resta saber se esses mesmos policiais que aprecem nas “selfies” terão coragem de retornar à favela da Rocinha sem as respectivas balaclavas.

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