Sem perder tempo, governo troca a malemolência de Imbassahy pela truculência discursiva de Marun

“Nem tanto ao céu nem tanto a terra”. Eis o dito popular que prega o uso da parcimônia na busca de uma solução para o que solucionado não está. Horas após Antonio Imbassahy (PSDB-BA) pedir demissão do cargo de ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, o Palácio do Planalto anunciou o peemedebista Carlos Marun (MS) como novo comandante da pasta que cuida da articulação política.

Marun estava no primeiro lugar da fila para ser nomeado ministro – algo que chegou a ser anunciado anteriormente sem chegar aos fatos –, mas seu “jeito estúpido de ser” não o credencia para assumir missão tão espinhosa, em especial no momento em que o governo de Michel Temer ainda cabala votos para aprovar a tão esperada reforma da Previdência.

Integrante de primeira hora da chamada “tropa de choque” de Michel Temer, Marun foi rude ao defender a derrubada, pela Câmara dos Deputados, das duas denúncias contra Temer. Quase colérico ao tratar de assuntos de interesse do governo, Carlos Marun era, até esta sexta-feira (8), relator da CPMI da JBS, posto que assumiu sob protestos de muitos parlamentares, inclusive de partidos da base aliada.

Com o tucano Imbassahy, o governo vive momentos de dificuldades e constrangimento na esfera da articulação política, pois o parlamentar baiano não tem a “pegada” necessária para negociar apoio político em favor de um governo impopular e acusado de golpista pela oposição raivosa. O agora ex-ministro perdeu força como ministro nos últimos meses, sendo que sua demissão já era negociada desde então.


O fato de ser filiado ao PSDB e ter permanecido no governo Temer, apesar das recomendações partidárias, fez com que surgisse o boato de uma mudança para o PMDB. Com os tucanos saindo em debandada do governo, a permanência de Imbassahy na Secretaria de Governo exigiria do presidente da República uma declaração de que o tucano entraria na sua cota pessoal, longe do loteamento de cargos que marca o pretenso “presidencialismo de coalizão”.

Para Temer, manter um ministro no cargo sob a rubrica de “cota pessoal” sem que esse ofereça contrapartida, mesmo que mínima, é decisão de governo que navega com o vento a favor, o que não é o caso. Sendo assim, o pedido de demissão de Imbassahy foi, como afirmou o UCHO.INFO em matéria anterior, um enorme favor ao governo, que se livrou da “saia justa”, ao mesmo tempo em que proporcionou uma dose de alívio ao PSDB, que chega à convenção nacional, no sábado, rachado como sempre.

Articulação política, mesmo em situações favoráveis, é tarefa para poucos, especialmente porque a política nacional é movida pelo escambo bandoleiro. Em cenário de adversidades, a tarefa torna-se hercúlea, o que exige tato político e diplomacia de sobra, sem contar que é preciso estar ciente de que recuar muitas vezes representa um passo adiante. E Marun não tem esse perfil, pelo contrário.

Em suma, se Imbassahy não tinha voz, Marun é o pitbull que a partir de agora passará a salivar e mostrar os dentes logo na entrada do Palácio do Planalto. É esperar para ver, como recomenda São Tomé.

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