Ousado além da medida, João Doria ainda não mostrou a que veio, mas já é chamado de “mentiroso”

Considerado “cristão novo” na política – e de fato é –, o prefeito de São Paulo, João Doria, tem como único grande feito nesse universo, por enquanto, ter imposto memorável derrota ao petista Fernando Haddad na eleição de 2016, impedindo o PT de continuar no comando da maior cidade brasileira. E isso não é pouco, diga-se de passagem, mas não é tudo.

Contudo, Doria errou ao acreditar que após alguns meses sentado trono paulistano poderia alçar voos mais altos e ousados. Nada contra os que buscam novos desafios, mas a política nacional tem suas regras. Sem contar que é preciso combinar com quem chegou antes à fila. E o alcaide da Pauliceia Desvairada nadou demais para morrer na praia.

João Doria é filiado a uma legenda em que a soberba e a cizânia andam de mãos dadas. O PSDB é o partido mais adequado à personalidade de Doria, que como empresário passou a vida gravitando na órbita de uma agenda telefônica invejável. Porém, a política verde-loura é um jogo bruto que dispensa delicadezas e salamaleques, especialmente quando algum interesse está sendo ferido.

Apesar de estar à porta dos trinta anos de existência, o PSDB é um ajuntamento de velhos coronéis que sobreviveram à era plúmbea. A renovação na política é algo necessário e imperioso, mas querer sentar-se à janela logo na primeira viagem de bonde é excesso de ousadia. E João Doria não soube respeitar as regras do tucanato. Alguém há de dizer que esse movimento do prefeito paulistano pode provocar uma mudança no PSDB, mas isso só passa no pensamento de quem desconhece a política e principalmente os tucanos de fina plumagem.

O erro capital de Doria foi ter afrontado o ex-governador Alberto Goldman, que até a última sexta-feira, 8 de dezembro, estava como presidente interino do PSDB. O prefeito de São Paulo pode até não gostar de Goldman, mas deveria por prudência e educação, pelo menos, respeitar o argênteo dos cabelos do seu agora desafeto.

Alberto Goldman disse, semanas atrás, que todas as licitações da prefeitura paulistana são direcionadas. O ex-governador reconheceu o erro, afirmando que com sua fala acabou por ofender outras pessoas. Ou seja, Goldman não mudou de opinião em relação ao prefeito. Doria, por sua vez, rebateu afirmando que a história política de Goldman nada vale. O que não é verdade, goste-se ou não dele.


O entrevero não parou por aí… João Doria errou enormemente ao afirmar que Goldman lhe pediu desculpas. E por conta disso foi chamado de “mentiroso” pelo ex-governador. “Eu nem tinha porque me desculpar. Não ofendi ninguém. E, se ele tivesse me procurado, eu não teria nem conversado”, declarou Goldman ao jornal “Folha de S. Paulo”. Ou seja, como reza a sabedoria popular, o prefeito “está no sal”.

A questão que está no tabuleiro tucano não é apenas mágoa, talvez de parte a parte, mas um revanchismo rançoso que custará caro a João Doria. Depois de fracassar na sua tentativa de ser candidato à Presidência da República pelo PSDB, Doria agora alçou à mira o Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista. E de novo o prefeito precisa combinar, com a devida antecedência, com os caciques do tucanato de São Paulo, caso queira continuar com alguma chance de sonhar em ser candidato ao posto atualmente ocupado por Geraldo Alckmin. Contudo, ao que parece, não houve até agora qualquer combinação.

O enxadrismo político é complexo e exige destreza daqueles que se arriscam nessa seara. E João Doria, que acredita ser a versão moderna e tropical de Messias, não tem humildade suficiente para “comer pelas beiradas”.

O prefeito de São Paulo queimou na largada e dificultou a vida do governador Geraldo Alckmin, que controla mais da metade da administração paulistana. Doria pode rebater essa afirmação, mas quem conhece a prefeitura da capital dos paulistas sabe que isso é verdade. Ademais, se as concorrências da prefeitura são direcionadas ninguém pode garantir, mas Goldman jamais faria a esmo afirmação tão grave e contundente.

Sonhar com o Palácio dos Bandeirantes é permitido a qualquer um, mas no ninho tucano isso pode se transformar em pesadelo, dependendo do plano e do postulante ao cargo. Afinal, essa cobiça passa obrigatoriamente pela candidatura de Alckmin à Presidência. O governador paulista precisa garimpar apoio dentro do próprio partido para manter-se no páreo. O que exigirá, de chofre, uma composição com José Serra, que está de olho na vaga de governador. De quebra Serra poderá trazer no bagageiro o atual ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Inovação e Comunicações), que controla o PSD e poderá ser candidato a vice. E nessa bagagem tem votos de sobra.

No caso de o senador José Serra desistir da disputa, Kassab poderá assumir a candidatura, o que em termos eleitorais é vantajoso para Alckmin. Em outro cenário, o governador de São Paulo, que agora preside o PSDB, poderá fazer um agrado ao seu atual vice, Márcio França, para cabalar o apoio do Partido Socialista Brasileiro (PSB) na corrida presidencial. O que significa deixar Doria à beira do caminho. Alckmin tem estampa de bom samaritano, mas sabe que na política vale a tese de que vingança é um prato que se come frio. E o rega-bofe já está gélido.

Em suma, o “cristão novo” João Doria começou como estafeta de sacristia, mas não demorou muito para acreditar que era o dono da paróquia. Cometeu um pecado capital, mas começou a trabalhar nos bastidores para decolar rumo à Santa Sé. Diante da pane seca, agora sonha em tomar de assalto a catedral, mas deveria se dar por satisfeito pelo fato de continuar na própria igreja. Caso insista em destilar heresias no tucanato, acabará os dias “passando a sacolinha”.

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