Planeta tem um novo bilionário a cada dois dias

Em seu relatório anual sobre a desigualdade, divulgado nesta segunda-feira (22), a Oxfam, ONG de ajuda humanitária presentes em 94 países, revelou que 82% da riqueza gerada no mundo em 2017 foram parar nas mãos de 1% da população mais rica.

No relatório “Recompensem o trabalho, não a riqueza”, a Oxfam explicou que, em 2017, o 1% mais rico elevou o seu patrimônio em 762 bilhões de dólares (cerca de 2,5 trilhões de reais), o suficiente para acabar sete vezes com a miséria no mundo. A Comissão de Combate à Fome de Oxford apontou que metade da população mundial não ficou com qualquer parcela dessa riqueza.

Segundo a Oxfam, houve um aumento histórico no número de bilionários no mundo: “atualmente existem 2.043 bilionários no mundo e 9 em cada 10 são homens”. Também foi o maior aumento do número de bilionários de um ano para o outro, com um novo bilionário a cada dois dias, de acordo com a ONG.

Sobre o Brasil, a Oxfam informou ainda que as cinco pessoas mais ricas do país têm um patrimônio equivalente à metade da população brasileira. A riqueza dos milionários cresceu 13% em 2017, enquanto 50% dos brasileiros mais pobres viram a sua parte nos rendimentos nacionais reduzida de 2,7% para 2%.

Rafael Georges, coordenador de campanha da Oxfam no Brasil, explicou que os dados da pesquisa, fornecidos pelo Banco Credit Suisse, indicam que há uma tendência de aprofundamento da desigualdade social no Brasil.
“A concentração de riqueza é muito cruel e eficiente para quem está no topo. Se você tem bastante patrimônio, consegue gerar renda e consequentemente mais patrimônio. Quando a economia [brasileira] começou a esboçar alguma recuperação, esta parcela da população [mais rica] experimentou um momento favorável”, disse.

Sistema problemático

O estudo calculou que, mundialmente, a riqueza dos bilionários aumentou 13% ao ano em média desde 2010, seis vezes mais do que os aumentos dos salários pagos aos trabalhadores (2% ao ano).
Para a organização não governamental, o crescimento sem precedentes do número de bilionários não é um sinal de uma economia próspera, mas um sintoma de um sistema extremamente problemático, já que mais de metade da população mundial tem um rendimento diário de entre 2 e 10 dólares.

“O boom de bilionários não é um sinal de uma economia próspera, mas um sintoma de um sistema econômico falido”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva da Oxfam International. “As pessoas que fazem nossas roupas, montam nossos celulares e cultivam nossos alimentos estão sendo exploradas para garantir uma oferta constante de bens baratos e aumentar os lucros das empresas e dos investidores bilionários.”

“Enquanto o 1% mais rico ficou com 27% do crescimento do rendimento global entre 1980 e 2016, a metade mais pobre do mundo ficou com 13%”, continua o relatório. “Mantendo o mesmo nível de desigualdade, a economia global precisaria ser 175 vezes maior para permitir que todos passassem a ganhar mais de 5 dólares por dia”, concluiu a análise.


Críticas à Oxfam

Como nos anos anteriores, o estudo de Oxfam foi criticado como oferecendo uma análise simplista da desigualdade de riqueza, focalizando a riqueza líquida e não a riqueza bruta, o que exclui a dívida.
Os críticos disseram que, embora as reivindicações da instituição de ajuda humanitária ocupem as manchetes, elas ignoram como os níveis globais de pobreza caíram de 75% em 1929 para 10% em 2015.

“O erro de Oxfam é ver a riqueza como um bolo fixo”, disse Sam Dumitriu, diretor de pesquisa do Instituto Adam Smith, “think tank” neoliberal londrino.

“Mais riqueza para [Mark] Zuckerberg e [Jeff] Bezos não significa menos riqueza para você ou para mim. Na verdade, é o contrário: num mercado livre, os indivíduos só podem acumular riqueza preenchendo os desejos e as necessidades dos outros. O trabalho e o comércio realmente recompensam todos os envolvidos”, opinou Dumitriu.

Dumitrui disse ainda que seria mais importante reduzir a pobreza do que a desigualdade e apontou a rejeição de mercados livres nos últimos anos na Venezuela sob Hugo Chávez e Nicolás Maduro como um movimento que forçou mais de 80% da população a entrar na pobreza, apesar de o país sul-americano ter as maiores reservas de petróleo comprovadas do mundo.

No entanto, o economista Gabriel Zucman, membro do comitê executivo do Relatório Mundial de Desigualdades, um estudo separado publicado no mês passado pela Escola de Economia de Paris, insistiu que o futuro da pobreza depende do que acontece com a “desigualdade dentro do país”.

“Se todos os países acompanharem a trajetória de desigualdade que os EUA seguiram desde 1980, teremos dificuldade em aliviar a pobreza global. Para reduzir a pobreza, o crescimento precisa ser distribuído de forma equitativa”, disse Zucman à Deustche Welle.

O Relatório Mundial de Desigualdade revelou que os 50% dos assalariados mais pobres dos EUA viram o crescimento da riqueza zerar ao longo dos últimos 37 anos, os 90% mais pobres tiveram um crescimento muito limitado, enquanto os ganhos dos 1% mais ricos triplicaram.

Desigualdade de gênero

Em seu estudo, a Oxfam revelou ainda que, globalmente, as mulheres estão nas formas de trabalho menos bem remuneradas e menos seguras e, de forma consistente, ganhando menos do que os homens.
A Oxfam exorta os governos a se comprometerem a reorganizar o sistema econômico para trabalhar pela humanidade como um todo, em vez de uma pequena elite, apontando como, atualmente, 42 pessoas possuem a mesma riqueza que as 3,7 bilhões mais pobres no mundo.

O lançamento do relatório internacional da Oxfam é feito na véspera do Fórum Econômico Mundial, que junta os principais líderes políticos e empresariais do mundo na cidade de Davos, na Suíça, entre 23 e 26 de janeiro. (Com agências internacionais)

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