Sempre histriônico, Dallagnol atropela o bom senso ao criticar mandado coletivo de busca e apreensão

Nada pode ser mais nocivo à nação do que o histrionismo de uma autoridade, que com declarações de conveniência induz a opinião pública a erro. No momento em que o repentino radicalismo da população precisa de alguém esclareça os fatos, mostrando-os como realmente são, um procurador da República que tenta colocar mais combustível na flamejante fogueira não pode ser levado a sério.

Responsável pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, o exibido procurador Deltan Dallagnol deu mostras, nesta terça-feira (20), de sua disposição ao radicalismo interpretativo. Ao usar conta no Twitter para comentar a intenção do governo federal de usar mandato de busca e apreensão coletivo no Rio de Janeiro, durante o processo de intervenção na segurança pública, Dallagnol afirmou que a medida também deve valer para o Congresso Nacional.

“Se cabem buscas e apreensões gerais nas favelas do Rio, cabem também nos gabinetes do Congresso. Aliás, as evidências existentes colocam suspeitas muito maiores sobre o Congresso, proporcionalmente, do que sobre moradores das favelas, estes inocentes na sua grande maioria”, escreveu o procurador da Lava-Jato.

A solicitação feita ao governo federal pelo comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, precisa ser analisada de forma contextual, pois do contrário dá margem a interpretações bizarras, como a de Deltan Dallagnol, que deveria se ater aos fatos antes de acionar o “besteirol”.


O pedido de mandado de busca e apreensão coletivo se deve à complexa geografia das favelas cariocas, onde o crime organizado instalou um Estado paralelo e mantém sob “tutela” os moradores.

Considerando que, em caso de ação das Forças Armadas ou das polícias estaduais (Civil e Militar), criminosos poderão fugir para as casas de moradores das favelas, não há como deixar de vasculhar residências em busca de traficantes e milicianos. Isso não significa que os moradores das favelas são suspeitos de crimes.

Em relação ao Congresso Nacional, onde muitos parlamentares estão envolvidos em casos de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes, é fácil a identificação dos gabinetes e o cumprimento de mandados judiciais, sem que o investigado consiga escapar.

Adepto do exibicionismo e acreditando ser a derradeira solução para a crise moral que devora o Brasil, Deltan Dallagnol perdeu a chance de ficar em silêncio, mas preferiu se manifestar de maneira tosca e típica de estreante no Direito.

Quando uma autoridade age dessa maneira, há de se questionar a solidez do Estado Democrático de Direito. Incursões dessa natureza servem apenas para desinformar, fomentar notícias mentirosas e acirrar os ânimos já exaltados.

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