Demissão de Segovia do comando da PF revela o esvaziamento do poder do peçonhento José Sarney

A criação do Ministério Extraordinário da Segurança Pública ainda suscita dúvidas acerca das razões de a pasta não ter sido criada anteriormente, mas deixa ao menos uma certeza: o esvaziamento do Ministério da Justiça e o enfraquecimento de Torquato Jardim como ministro.

No momento em que Raul Jungmann levou para o guarda-chuva do novo ministério as principais instituições relacionadas à segurança pública, ficou claro que Torquato Jardim deixou de fazer o que poderia ser feito. Ou então, Jungmann está a dizer que fará aquilo que sabe ser impossível.

É fato que qualquer mudança no cenário nacional depende exclusivamente de vontade política, mas é preciso avaliar com a devida parcimônia a repentina mudança de postura que o governo apresenta. A questão da violência no Rio de Janeiro não é novidade, sendo que o problema poderia ter sido enfrentado desde quando as Forças Armadas aterrissaram nas paragens fluminenses.

Contudo, chama a atenção a destituição de Fernando Segovia da direção-geral da Polícia Federal, algo que só ocorreu porque Jungmann exigiu do presidente da República a necessária “carta branca”. Nesse panorama, a aquiescência de Michel temer diante do pleito do novo ministro mostra que algo estranho existia nos bastidores do poder central que impedia a tomada de decisões.


Pressionado pelos policiais federais logo após ter sido anunciado como ministro da Segurança Pública, Jungmann passou a sofrer pressão por parte dos policiais federais, que não aceitavam Segovia no comando da instituição em função da estabanada declaração sobre o inquérito que investiga o presidente da República no caso do decreto dos portos. Sem contar que delegados federais vinham ameaçando prender o então diretor-geral.

Para comandar a PF, o ministro escolheu o discreto e competente delegado Rogério Galloro, com quem Jungmann trabalhou ao longo de sessenta dias durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

A demissão de Fernando Segovia não apenas leva doses de calmaria à Polícia Federal, mas consolida a perda de poder de José Sarney, responsável por sua indicação. Não se sabe por qual razão o caudilho maranhense teve o direito de palpitar em assunto tão importante e delicado, porém o País livrou-se de mais uma investida do ex-senador.

Muito estranhamente, o Palácio do Planalto vinha se rendendo à influência de José Sarney, conhecido no meio político por sua silenciosa peçonha. É importante lembrar que o imbróglio que surgiu na órbita do Ministério do Trabalho, ainda acéfalo, se deve à ingerência de Sarney, que vetou o nome do deputado federal Pedro Fernandes, indicado pelo PTB ao posto. Com Fernandes fora do páreo, Cristiane Brasil foi indicada pelo partido, mas não conseguiu tomar posse no cargo.

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