Sem o cabo eleitoral Lula, petistas apostam no bizarro plano de aumentar a bancada no Parlamento

(Ricardo Stuckert – Divulgação)

Por mais que os petistas insistam na cantilena que rotula a inelegibilidade de Lula como continuidade de um golpe que não existiu, a cúpula do Partido dos Trabalhadores começa a planejar um cenário eleitoral sem a participação do ex-metalúrgico, condenado à prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso envolvendo o apartamento tríplex no Guarujá, no litoral paulista.

A estratégia rascunhada pelos caciques da legenda, como antecipou o UCHO.INFO na edição de terça-feira (27), visa eleger o maior número possível de parlamentares à Câmara dos Deputados ou às Assembleias estaduais. Isso significa um retrocesso em termos de projeto político, mas exibe rasas doses de lógica se analisado pelo prisma do recomeço. O que não significa que investida terá sucesso.

O grande problema do PT a essa altura dos acontecimentos é a falta de um puxador de votos para garantir o aumento das bancadas da legenda nas Casas legislativas. Com Lula fora de combate e carregando uma ruidosa condenação – outras estão a caminho –, o partido fica sem o seu principal cabo eleitoral, que poderá ser preso até meados de abril. O que por um lado deve incitar a militância, mas por outro pode passar a mensagem de que a faxina precisa continuar.

Quando a condenação de Lula despontava no horizonte do Judiciário, o PT começou a tratar do chamado “plano B”. E passou a apostar em pelo menos dois nomes para substituir o petista-mor na corrida presidencial: Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, e Jaques Wagner, ex-governador da Bahia.

A solução criada pelo PT começou a desmoronar quando Haddad foi indiciado, em janeiro passado, por uso de caixa 2 na campanha eleitoral de 2012. O indiciamento do ex-alcaide paulistano se deu na esteira dos depoimentos de executivos da empreiteira UTC, flagrada no Petrolão.


Com esse cenário, Jaques Wagner, mesmo contra a vontade, foi alçado à condição de substituto “número 1”. Seu desejo era outro, mas no PT o escolhido precisa avançar na rota do sacrifício como forma de salvar o partido.

Acontece que Wagner foi fisgado pela Operação Cartão Vermelho, da Polícia Federal, acusado de receber R$ 82 milhões em propina decorrente do superfaturamento das obras do Estádio Fonte Nova, em Salvador, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.

Sob o manto da inteligência política e tomando por base o discurso de alguns raros petistas movidos pela razão, o partido deveria apoiar algum candidato da esquerda disposto a encarar a corrida presidencial, caminho mais coerente na tentativa de reestruturar essa corrente ideológica.

Alguém há de dizer que a esquerda precisa ser extirpada da cena política nacional, mas não se pode esquecer que o segredo da democracia está no equilíbrio de forças opostas. E uma democracia sem oposição é preambulo do totalitarismo.

Esperar que o PT decida seguir o caminho mais lógico é sonho de uma noite de verão, o que permite acreditar que o partido está dando largos passos para a anorexia partidária. O que poderá patrocinar uma debandada de “companheiros” sem precedentes.

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