Os Trapalhões e a Tabajara

(*) Carlos Brickmann

Apertem os cintos: os pilotos assumiram! A menos que as coisas sejam mais confusas do que parecem, o que é difícil, Kim Jong-un, o do cabelo esquisito da Coreia do Norte, vai-se reunir com Donald Trump, o do cabelo esquisito dos Estados Unidos. Os Estados Unidos e a Coreia do Norte estão formalmente em guerra, já que em 1953 houve apenas um armistício. E o mediador do encontro entre os dois países em guerra é Chung Eui-yong, o diretor do Gabinete de Segurança da Coreia do Sul – também em guerra com a Coreia do Norte. A reunião deve ser em maio, em local a definir.

É um avanço: há poucos dias, o norte-coreano e o norte-americano discutiam, de modo até indecente, o tamanho do botão nuclear de cada um. Mas, se considerarmos as declarações de Kim e de Trump, haverá certa confusão a respeito dos acordos e desavenças entre ambas as nações.

Talvez haja aí margem para que o Brasil, sucessivamente esnobado nas visitas de dirigentes de Primeiro Mundo à América Latina, volte a fulgurar nos anais diplomáticos internacionais. Num encontro entre Trump e Kim, está faltando uma personagem essencial: a ex-presidente Dilma Rousseff. Traduzir inglês para coreano, e vice-versa, já é difícil. Considerando-se os personagens a ser interpretados, já é tarefa para um superprofissional. Com Dilma, qualquer tradução seria impossível. Cada lado daria sua versão, pela qual se diria vitorioso. Sem divergências, teríamos paz para nosso tempo.

Lado a lado

Se os dirigentes dos dois países fossem menos espetaculosos, o encontro seria recebido com mais confiança. Para Coreia do Norte e EUA, a crise já rendeu o que podia e agora é prejudicial a ambos. A Coreia do Norte, país pobre e em crise alimentar permanente, não tem recursos para investir em foguetes que nada significam em termos econômicos; Trump, empenhado em brigar com o máximo possível de aliados, não tem tempo a perder com inimigos. É hora de mudar de assunto. Embora seja surpreendente, nada impede que lance funcione. A diplomacia do pingue-pongue funcionou: em 1971, os jogadores da seleção americana foram convidados para ir à China, abrindo caminho para negociações entre Washington e Pequim.

Tudo bem

A 12ª Vara Federal, Brasília, mandou soltar Joesley Batista, por excesso de tempo de prisão preventiva. Joesley confessou ter subornado algo como 1.800 políticos, entre eles, disse, ministros e o presidente da República. E mostrou como trair o presidente, preparando uma gravação. Joesley sai livre; só que sem passaporte. Marcelo Odebrecht, que montou em sua empresa um setor de propinas, e que o estendeu internacionalmente, cumpriu dois anos de pena e está, digamos, preso em sua mansão. Já Marcos Valério, que perto dos outros é nutella, cumpre 40 anos de prisão.

Delfim é o alvo

No mesmo dia, duas iniciativas contra o ex-ministro Delfim Netto: cedo, a Polícia Federal fez buscas em sua casa e garante ter rastreado pagamentos suspeitos de R$ 15 milhões, por empresas que participaram da construção da Hidrelétrica de Belo Monte; e, à tarde, o juiz Sérgio Moro determinou o bloqueio de R$ 4,4 milhões das contas de Delfim, de seu sobrinho Luís Appolonio Neto e de empresas de ambos. Os pagamentos a Delfim, diz a Procuradoria Geral da República, não se referem a qualquer serviço por ele prestado às empreiteiras, e teria sido acertado pelo então ministro Palocci. Os advogados de Delfim lembram que ele exerceu seu último cargo público em 2006 e dizem que não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer ocasião.

…e bonito por natureza

*Um grupo de seguidores do MST, armados com facões, invadiu a gráfica do jornal O Globo, no Rio. Que pretendiam os “trabalhadores sem terra” numa gráfica, em área urbana? Não se sabe. Mas o caro leitor já leu algum protesto de sindicatos de jornalistas contra o ataque a um jornal?

*Mikael Medeiros, 19 anos, é notícia de destaque em O Globo: no ano passado, ele brincava por estar em dependência na escola. Neste ano, é gestor financeiro do Ministério do Trabalho, responsável por autorizar pagamentos de meio bilhão de reais por ano. É o Brasil que dá certo.

*Informação oficial: neste ano, o Governo do Distrito Federal pagava a 648 servidores salário superior ao teto fixado pela Constituição, pouco mais de R$ 32 mil mensais, o pagamento de ministros do Supremo. Um deles recebe R$ 303 mil por mês; sete outros, menos abonados, ganham pouco mais de R$ 200 mil mensais. Diz o Governo que decisões judiciais dão aos funcionários o direito de receber bem mais que o teto constitucional.

*Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos de prisão por participar do assassínio de seus pais a pauladas, saiu da prisão no dia 8, para passar a Páscoa com o marido. Suzane já tinha conseguido outro período de liberdade, para – pois é – comemorar o Dia dos Pais.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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