Na hora do calor, fique frio

(*) Carlos Brickmann

Os caros leitores, adeptos e adversários de Lula, farão a gentileza de perdoar este colunista, que neste momento discorda de todos; acredita que o juiz singular, mais os três, unânimes, do Tribunal Federal de Recursos, não se enganariam ao condená-lo – e por um só crime, havendo acusações ainda pendentes. Mas discorda de quem o quer atrás das grades. Negar sua candidatura por ter a ficha suja, OK: mas prendê-lo para que? Vingança?

Do jeito que a coisa foi conduzida, boa parte dos eleitores acha que Lula só será punido se for preso – caso contrário, acredita-se erradamente, terá sido criminoso sem pena. E outra parte substancial acha que a prisão é uma punição inaceitável. Se, aplicada a lei, Lula fosse declarado inelegível, discutindo-se depois a prisão, o crime estaria exemplarmente punido.

Como está a situação, hoje? Se Lula se livra da prisão, fica a imagem de que tudo é permitido. Haverá uma série de pedidos de libertação de presos. Fica a imagem de que manifestações populares e a lei foram ignoradas para que um político condenado, mas popular, se livrasse da cadeia. Se Lula for preso, ficará a imagem do líder popular martirizado por seus inimigos. A ladroeira se transformará em martírio. Lula não poderá ser candidato, mas terá a chance de dar apoio, talvez decisivo, à candidatura de algum poste.

Como dizia Ulysses Guimarães, política não se faz com o fígado. Política se faz com o cérebro. Mas como, com Dilma x Carlos Marun?

Quem está solto…

Está na hora das desincompatibilizações: quem quiser se candidatar tem de abandonar os cargos que ocupa até o dia 7. O presidente Michel Temer já iniciou as trocas no Ministério: Gilberto Occhi fica na Saúde, Valter Casimiro nos Transportes. No total, são 13 ministros novos, e Temer só pode nomear quem esteja solto – de seus seguidores, não são tantos assim, em especial após a Operação Skala, da Policia Federal. Só pegou amigos fiéis! Do jeito que a coisa vai, faltará gente para o baralhinho do Jaburu.

…apresente-se

Para alguns dos que estão soltos e não têm grande chance de eleger-se, a nomeação para um ministério é uma grande saída: livram-se da primeira instância e vão para o Supremo, onde um processo é bem mais demorado.

Boa leitura!

O repórter Ivo Patarra, fundador do PT, que foi assessor de imprensa da prefeita petista Luiza Erundina, lança um livro completo sobre aquilo que chama de “maior escândalo de todos os tempos no Brasil”: o Petrolão. A Lava Jato e os Petrodólares traz, em 83 capítulos, um apanhado das investigações sobre a série de roubos que chegou a ameaçar a estabilidade da Petrobras. Ivo é também autor de O Chefe, obra que iniciou as denúncias do Mensalão, e filho de grandes jornalistas, Judith e Paulo Patarra.

Pague, Gleisi!

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffman, teve R$ 162 mil de suas contas bancárias bloqueadas para que pague a dívida da ação que perdeu para Michele Caputo Neto, secretário da Saúde do Paraná. Em 2008, Gleisi acusou Caputo de ser “o maior operador de sacanagem do PSDB do Paraná” e, com seu estilo característico, atacou até o sobrenome de seu adversário. Gleisi foi condenada em 2009, mas recorreu sem parar até agora, o que fez com que a dívida passasse de R$ 5 mil, decidido pelo primeiro juiz a analisar a causa, a R$ 50 mil, nas sucessivas decisões superiores. Corrigida, a dívida chegou ao valor atual.
E ainda perdeu

Em 2008, Gleisi disputou a Prefeitura de Curitiba e foi surrada pelo hoje governador Beto Richa, do PSDB, que venceu no primeiro turno com 77% dos votos. Gleisi, com xingação e tudo, se limitou a 18%.

Agora, vai!

O vereador paulistano Mário Covas Zuzinha Neto, filho do falecido governador Mário Covas, fundador do PSDB, e tio de Bruno Covas, que assume pelo PSDB a Prefeitura de São Paulo, no dia 7, acaba de aderir a um partido rival: entrou no Podemos, partido dirigido pela deputada federal Renata Abreu e cujo candidato à Presidência é o senador Álvaro Dias. Apesar do parentesco ilustre, vereador foi o maior cargo até hoje alcançado em eleições por Zuzinha.

Ameaça de pijama

O general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa exige que o Supremo vote de acordo com o que ele, general, pensa; se não votar, estará errado. Mais: se Lula puder concorrer e for eleito (o que é impossível, a menos que se mude a lei), ameaça com reação armada e golpe militar. OK, em nome de quais militares o general da reserva está falando? Alguém lhe fez a pergunta? Porque, se não falar em nome de ninguém, a ameaça é vazia. Se falar em nome de gente da ativa, onde estará a disciplina militar?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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