Ciente da inelegibilidade, Lula mantém discurso da candidatura para evitar implosão do PT

Independentemente da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a prisão após sentença de segundo grau, o ex-presidente Lula, que cumpre pena Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, está inelegível de acordo com a Lei da Ficha Limpa. O que em termos políticos é um enorme ganho ao País.

Entre estar inelegível e poder registrar a candidatura há uma sensível diferença, o que não significa que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dará provimento ao pedido a ser feito por Lula. Essa esperada rejeição decorre da impossibilidade de o ex-metalúrgico apresentar ao TSE as certidões negativas da Justiça, como exige a legislação eleitoral vigente.

O presidente do TSE, ministro Luiz Fux, já afirmou que não demorará para analisar o pedido de registro da candidatura de Lula, pois o tema interfere desde já na corrida presidencial de outubro próximo. Na pior das hipóteses, Lula, mesmo preso, poderá registrar sua candidatura, mas isso não passa de estratégia partidária.

O primeiro ponto a ser considerado no caso em questão é que Lula, que está encarcerado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, teme que com sua ausência o Partido dos Trabalhadores inicie um processo de implosão em decorrência das constantes divisões internas e brigas entre correntes. Para evitar esse cataclismo partidário, Lula pretende manter o discurso de que será candidato, o que conteria até certo ponto a cizânia petista. Mesmo assim, quem conhece minimamente de Direito Eleitoral sabe que essa estratégia é conversa fiada.


Por outro lado, a manutenção do discurso de que Lula será candidato à Presidência da República mantém a militância focada no assunto, evitando dispersões ideológicas para outros nichos da esquerda nacional. Tanto é assim, que no discurso proferido antes de se entregar à PF, em São Bernardo do Campo, no último sábado (7), Lula exaltou presidenciáveis da esquerda, como Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), mas não mencionou o nome de um só petista com chance de participar da disputa pelo Palácio do Planalto.

Entre os discursos para o público cativo e as conversas de bastidores há uma considerável distância. Enquanto garante aos seus seguidores que será candidato de qualquer maneira, Lula já liberou o ex-prefeito Fernando Haddad (São Paulo) para costurar alianças visando sua candidatura à Presidência. Haddad é considerado o “plano B” do PT, já que o petista baiano Jaques Wagner preferiu submergir por causa de escândalos de corrupção. E desse assunto o eleitorado está deveras cansado.

A grande questão a ser considerada é a capacidade de Lula de transferir seu cacife eleitoral para um candidato petista, tarefa que torna-se mais trabalhosa se o ex-presidente continuar atrás das grades. Uma eventual soltura de Lula depende da decisão do STF, que pode surpreender a opinião pública com uma decisão que contraria os anseios petistas. Depois do pífio espetáculo comandado por Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que foi considerado um desafio ao Judiciário, alguns ministros do Supremo podem mudar de opinião.

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