Está quente, está frio

(*) Carlos Brickmann

Está quente: o ministro Marco Aurélio marcou para terça, depois de amanhã, a decisão sobre o recebimento de denúncia por corrupção passiva contra o senador Aécio Neves, ex-presidente nacional do PSDB. Na sessão do Supremo, decide-se o recebimento da mesma denúncia contra a irmã de Aécio, Andréa, do primo Frederico Pacheco e de Mendherson Souza Lima, todos delatados por Joesley Batista, que se fazia passar por amigo. Diz a denúncia que Aécio pediu R$ 2 milhões de propina a Joesley. Aécio diz que pediu dinheiro, como empréstimo, para pagar seus advogados.

Está frio: a vocação punitiva do STF não é tão vocacionada assim. Diz o colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br) que o ministro Celso de Mello segura há dez anos ação contra o deputado federal Flaviano Melo, do MDB do Acre, acusado de gestão fraudulenta quando governador, entre 1988 e 1990. A ação está pronta para julgamento em plenário, desde que Celso de Mello libere seu voto. A denúncia foi recebida em 2002, está no Supremo desde 2007, e prescreve no fim de junho. A partir de agosto, adeus julgamento. A ação estará extinta. O réu livre, leve. E solto.

Celso de Mello segura também, desde fevereiro, as duas primeiras ações penais liberadas para julgamento pelo relator da Lava Jato, ministro Édson Fachin: uma contra o deputado federal Nelson Meurer, do PP, outra contra a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann. Um dia, talvez.

Cumo é o nome dela?

Gleisi, a propósito, pediu a mudança de seu nome parlamentar para Gleisi Lula Hoffmann. Patrus Ananias também: Patrus Lula Ananias. E o senador Lindbergh Farias: Lindbergh Lula Farias, “Lindinho” para seus eleitores. O vereador Fernando Holiday fez a mesma coisa, ao contrário: é Fernando Moro Holiday. Tem gente que não pode ver um mico que sai correndo para pagá-lo.

Jogando para a plateia

Não se impressione com a manobra do PT, que pediu “medida cautelar” ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, para que o Governo brasileiro impeça a prisão de Lula até que todos os recursos tenham sido esgotados. A ONU não pode alterar resoluções judiciais de países-membros.

Brasil brasileiro

O excelente repórter Paulo Renato, colaborador desta coluna no Mato Grosso do Sul, chama a atenção para uma peculiaridade do Estado: nestas eleições, quem está em primeiro lugar nas pesquisas é quem mandava prender, o juiz Odilon de Oliveira, do PDT. Em segundo, vem quem já foi preso, o ex-governador André Puccinelli, do PMDB; em terceiro, quem é investigado por denúncia de corrupção, em delação da JBS, o atual governador Reinaldo Azambuja. O caçador lidera a corrida e a caça perde.

Só boato

Uma notícia falsa se espalhou rapidamente pela Internet, para denunciar uma suposta maquinação de ministros do Supremo para libertar presos da Operação Lava Jato. A manobra seria a seguinte: o ministro Marco Aurélio teria aproveitado a viagem de Temer à Cúpula das Américas, com a consequente posse de Carmen Lúcia como presidente da República e a de Toffoli em seu lugar no Supremo. Com Carmen fora da votação, a prisão em segunda instância não seria confirmada: com o placar de 5×5, os réus seriam beneficiados com a liberdade. Só que não: Temer volta no domingo e reassume a Presidência, Carmen Lúcia volta ao comando do Supremo e as votações ocorrem com a formação habitual da Corte,

Sinal de sempre

A informação falsa sobre a manobra que não houve tem uma característica que nunca falta e que é sinal seguro de que está tudo errado: o texto mal-educado, que troca fatos por insultos. Nesta, os ministros são chamados de crápulas e vagabundos. Com essa linguagem, nunca é verdade. O pedido “compartilhem ao máximo” também nunca falta em notícia falsa. E anda serve para facilitar a proliferação de vírus.

Intimidade?

Esqueça: hoje em dia (e não apenas por artes do Facebook) seus dados pessoais estão à disposição da praça. Privacidade? Intimidade? Clique http://easyconsultas.com/consulta.php e dê o CPF para ter informações sobre o portador, algumas certas e atualizadas, outras superadas, outras que nada têm a ver com o portador daquele documento. Legal ou ilegal? É melhor consultar advogados. Mas o link não é clandestino: quem o recebe, recebe abertamente.

Caminho possível

Preste atenção na ideia de uma Assembleia Constituinte, separada do Congresso, com a missão de mexer amplamente na Constituição de 1988. A ideia cresce e muita gente a vê como saída para a crise.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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