Longe da esquerda ou da direita, Joaquim Barbosa está indeciso porque teme arriscar o “patrimônio”

É absolutamente compreensível a postura titubeante de Joaquim Barbosa em relação à sua possível participação na corrida presidencial deste ano. Festejado durante muitos anos pela opinião pública por conta de sua atuação como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), Barbosa é desprovido das mais básicas qualificações para assumir o comando do País.

Ainda desfrutando dos louros do Mensalão do PT, Joaquim Barbosa foi cortejado por distintos partidos político, o que lhe permitiu imaginar que é a derradeira tábua de salvação de um país dominado pela corrupção.

Política é a arte da conciliação, não se faz à base do pé de cabra. A perigosa e estrita sintonia entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional exige dos operadores políticos habilidade de sobra e muita paciência. Habilidade e paciência, como se sabe, são predicados que passam longe de Joaquim Barbosa. O melhor exemplo do perigo que representa a intransigência política na relação com o Parlamento é Fernando Collor de Mello, que em dado momento de seu mandato decidiu intempestivamente desafiar deputados e senadores. Acabou apeado do cargo.

Ao filiar-se ao Partido Socialista Brasileiro (PSB, legenda que tem como fonte de inspiração o finado Miguel Arraes, o ex-ministro do STF deixou claro que tem um pé na esquerda, talvez os dois. Aliás, esse viés esquerdista não é novidade para quem acompanha com proximidade o cotidiano da política brasileira. Afinal, Joaquim Barbosa foi indicado ao então presidente Lula como sendo o candidato ideal para ocupar uma vaga no Supremo. Como se sabe, Betto é um esquerdista convicto, cujas ideias se alinham com as de Barbosa.

O Brasil vive um peculiar momento político, em que os eleitores, decidido a consertar o País a fórceps, querem eliminar a esquerda e apostar em um candidato de direita ou de extrema direita. Mal sabem que a democracia existe debaixo do equilíbrio de forças opostas. Do contrário, o modelo ditatorial toma conta da cena.

Até recentemente, Joaquim Barbosa era incensado como um candidato de centro-direita, mas ele está muito mais à esquerda do que imagina a vã filosofia. É fato que esquerdista com apartamento em Miami, o paraíso dos latino-americanos adeptos do consumismo, não convence, mas Barbosa pegou carona na equivocada ideia de que era de direita. Talvez esse equívoco tenha ocorrido por causa do seu jeito bruto de ser.


No momento em que o Brasil assiste ao avanço da intolerância e do radicalismo, um neófito candidato de esquerda terá de disputar espaço eleitoral com os “camaradas” que rezam pela mesma cartilha ideológica. E nessa seara há candidatos aos bolhões.

Calouro no universo dos assuntos econômicos, Joaquim Barbosa posicionou-se radicalmente contra o impeachment de Dilma Rousseff, que foi despejada do Palácio do Planalto por conta das “pedaladas fiscais” e de outros tropeços. Resumindo, Barbosa está longe de ser o candidato ideal, como acreditava uma porção do eleitorado nacional. Com a maioria do eleitorado verde-louro não querendo ouvir falar no nome de Dilma e cultivando verdadeira ojeriza à esquerda, Barbosa tem razão de estar indeciso.

Se por um lado Joaquim Barbosa não convence como suposto candidato de direita, até porque os fatos apontam na direção contrária, por outro deixa a desejar como candidato de esquerda. E no centro é óbvio que não permanecerá, se é que lá algum dia chegou.

A questão eleitoral envolvendo Barbosa passa obrigatoriamente pelas necessidades políticas do PSB. O partido, que assumiu o governo de São Paulo com Márcio França, pretende aumentar a bancada no Congresso e sonha em conquistar alguns governos estaduais, o que não é tarefa fácil. Atualmente, o PSB governa cinco unidades da federação: Distrito Federal (Rodrigo Rollemberg), Paraíba (Ricardo Coutinho), Pernambuco (Paulo Câmara), Rondônia (Daniel Pereira) e São Paulo (Márcio França).

Entre ser um bom juiz – há controvérsias – e ser um bom presidente da República há considerável e assustadora distância. E para que a comparação seja possível é preciso que o candidato se eleja. E nisso poucos acreditam. Entre aproveitar os louros por ter mandato alguns “mensaleiros” para a prisão e arriscar o “patrimônio” em uma campanha eleitoral incerta e conturbada é querer correr risco demais.

Tomando por base que o Brasil continua cambaleante em termos políticos e econômicos, e assim continuará por mais alguns anos, o melhor que Joaquim Barbosa pode fazer – a si próprio e ao País – é permanecer onde e como está, não convencido da própria candidatura.

O fato não está em convencer a si mesmo sobre tal desafio, mas em avaliar com a devida cautela os riscos de uma candidatura que pode desmoronar logo após a largada. Em outras palavras, Joaquim Barbosa deve ficar longe dessa aventura de concorrer à Presidência da República, já que o brasileiro não mais suporta francos atiradores.

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