Embuste nos direitos humanos

(*) Ipojuca Pontes

Repórter do Diário Carioca (jornal que modernizou a imprensa cabocla), fui entrevistar Nelson Rodrigues, uma espécie de moralista às avessas que não rejeitava os holofotes da mídia. Lá para tantas, lhe fiz a pergunta clássica: – “Afinal, Nelson… As mulheres gostam mesmo de apanhar?” O dramaturgo, em sua voz cava e profunda, veio de lá: “Nem todas, as neuróticas reagem”.

A entrevista rolou em março de 1965, época em que ninguém ouvia falar de feminicídio, LGBT, passeata gay ou ideologia de gênero. Então, o esquema da subversão esquerdista se dava na catequese do operariado dentro das fábricas, no apelo à luta armada das guerrilhas nas cidades e no campo e no ativismo panfletário da UNE financiada por Moscou.

No entanto, apesar do fraseado rodrigueano, de efeito cáustico, o fato concreto é que, salvo sadomasoquistas de plantão, ninguém gosta de apanhar – nem mulher, nem homem, nem criança, nem animais. Evidência disso encontra-se no rosário de denúncias que Michella Marys Pereira fez do ex-marido Roberto Caldas, advogado que ficou milionário com a rendosa indústria das ações trabalhistas.

Eis o fato: no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em Brasília, Michella declarou que Roberto Caldas a espancava habitualmente e a ameaçava de morte, além de acossar sexualmente as empregadas da casa, atracando-as com ímpeto de fazer inveja ao Palhares, personagem de Nelson Rodrigues.

A ex-esposa revelou como tudo se dava: “As agressões verbais e injúrias eram diárias. Físicas, como me bater com o controle remoto na cabeça, empurrão, tapas, cascudos, eram semanais. E ele sempre me cuspia. Fui espancada umas seis vezes, numa delas grávida do nosso segundo filho. Ele puxou meu cabelo, me empurrou de uma escada e deu chutes na minha barriga. Passei vários dias com dores. Quando fiz exame estava com um hematoma no útero. Passei a gravidez na cadeira de rodas”.

Detalhe curioso no comportamento brutal do advogado Roberto Caldas é que ele não tolerava os pratos nordestinos que a esposa, nascida em Aracaju, comia. Certa vez, ao vê-la comer uma buchada, quebrou o prato, tratou-a por vagabunda, dizendo depois que “a pobreza não saía de mim”. De outra feita, antes de acompanhá-lo numa cerimônia, comia um pão francês com manteiga e ele ficou furioso. Me puxou de dentro do carro, caí em cima de uma pedra. Não percebi que o porteiro tinha visto tudo”.

No capítulo da violência sexual, a mulher não escondeu os estupros sofridos: “Várias vezes me acordei no meio da noite com ele me penetrando. Às vezes eu tomava remédio forte para dormir, mas chegou um momento em que não conseguia mais dormir”. Em Juízo, confessou sua indecisão em se separar do algoz: “Eu estava ao lado de uma pessoa que tinha um nome muito forte não só no Brasil mas no exterior, com muita influência jurídica, econômica e política. Toda vez que o Roberto me batia ele dizia: ‘Agora vamos para a delegacia para você prestar queixa. Quero ver se vão acreditar em você’.

E, então, falava que era juiz e que ia tomar os meus filhos”.

Bem, assim chegamos ao cerne da questão: o dito Roberto Caldas é (ou era, em vista do escândalo) nada mais nada menos do que presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão das Organização dos Estados Americanos, a célebre OEA. Anteriormente indicado por Tarso Genro para ser Ministro de STF de Lula, o renomado advogado se fez paladino global dos direitos humanos, a engenharia social posta de pé pelo Diálogo Interamericano (arauto do globalismo) financiado com a grana fácil das fundações Rockefeller e Ford.

No Brasil, açulado por FHC, o serpentário de centenas de ONGs e ateus da Teologia da Libertação, a empulhação dos “direitos humanos” tornou-se política de Estado encampada pelos governos do PSDB e do PT. Seus objetivos básicos, camuflados pela mídia, são: perpetuar-se no poder, acuar o Exército brasileiro e prodigalizar com dinheiro público indenizações milionárias de centenas de terroristas e subversivos – ainda e sempre – empenhados em comunistizar o País.

Só para ficar em números, nos chamados “anos de chumbo”, que durou 10 anos, contaram-se, entre mortos e desaparecidos, segundo o Grupo Tortura Nunca Mais, cerca de 284 integrantes de organizações terroristas, enquanto, por outro lado, foram identificados 120 mortos, entre civis e militares assassinados pelo terror vermelho. De minha parte, conheço inúmeros esquerdistas que, presos por menos de 30 dias, até hoje ganham enxundiosas pensões da Viúva. Sobre isso, de resto, a Comissão da Meia-verdade (vale dizer, da mentira), outro penduricalho dos govenos corruptos tidos como democráticos, não abrem o bico.

Em suma, fracassando na guerra suja dos anos 1960, os comunistas e aliados partiram para a guerrilha dos “direitos humanos” que hoje incidem sobre o rendoso embuste do aquecimento global, campanhas ambientalistas, a exploração do indigenismo, do feminismo, do gayzismo etc., tudo incensado pelos aparelhos da famigerada ONU (Organização das Nações Unidas) que só pensa em se estabelecer no comando de um “governo mundial”.

A OEA, da qual o advogado Roberto Caldas era o presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é justamente um repeteco da ONU em proporção menor. Da mendacidade que se esconde sobre ela e boa parte dos seus quadros, nem é bom falar.

Contudo, voltaremos ao assunto.

PS – Direitos Humanos não são Direitos, são deveres. Basicamente, são os 10 Mandamentos inscritos na tábua de Moisés.

(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.

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