Não temo intimidações direitistas ou esquerdistas e abomino jornalistas “maria-vai-com-as-outras”

(*) Ucho Haddad

É difícil saber o que é pior: um cidadão preguiçoso politicamente – que acostumou-se com a coisa pronta e fácil e prefere ser comandado como gado marcado na fila do abate – ou o profissional de comunicação oportunista e metido a último gênio da raça – que muda de opinião conforme o desejo da massa. Ambos, sem distinção, bambeiam entre a decadência existencial e a ignorância devastadora.

Se parte da sociedade prefere o extremismo direitista como vacina contra o esquerdismo criminoso, cabe a cada um dos adeptos dessa fórmula utópica decidir o que lhe convém. Até porque, a polarização político-ideológica reinante no País aponta na direção de uma solução estapafúrdia. E mais adiante, com a tragédia consumada, que ninguém ressurja em cena com o discurso mambembe “eu era feliz e não sabia”.

Por outro lado, alguns profissionais de comunicação sequer coram a face ao despejar sobre os cidadãos a própria estupidez, como se o radicalismo opinativo e vacilante fosse o mais cobiçado passaporte para o futuro que, desse jeito, chegará com viés macabro.

Há dias, em meio ao avanço do criminoso movimento dos caminhoneiros – na verdade foi uma operação orquestrada pela direita burra e colérica, que agora sente a dor do tiro no pé –, jornalistas de aluguel não escondiam a disposição de colocar mais combustível na fogueira ardente e flamejante. Queriam, sim, ver o desdobramento do caos para ter o que comentar, o que fazer. Agiram dessa forma porque não sabem exercer o ofício do jornalismo longe do caos. E o fazem como se fossem dignos representantes de Aladim.

É preciso reconhecer que o governo de Michel Temer é fraco e desacreditado, mas é melhor levá-lo até o fim – faltam poucos meses – do que colocar a democracia em risco. Aliás, viver em democracia é um eterno projeto de longo prazo que dá muito trabalho.

Com o fracasso da ação criminosa engendrada pela direita raivosa com o apoio dos empresários do setor de transportes, o governo Temer continuou em pé, mesmo que cambaleante. Foi o bastante para os gênios (sic) da análise política começarem a mudar traiçoeiramente de opinião, apenas porque é preciso ter uma claque de loucos para aplaudir o besteirol que é regurgitado com insistência, pompa e circunstância.

Essa migração ocorreu porque nos subterrâneos o dinheiro vil de setores do direitismo alucinado começou a sonar novamente. Não faço essa acusação na esteira do achismo, mas com base em estarrecedoras informações de bastidores. Há nas coxias midiáticas gente graúda e endinheirada bancando o radicalismo opinativo, com o intuito de manipular parte da opinião pública e, mais adiante, longe do falso patriotismo, manter o lucro fácil às custas da população.

Esse despautério vem de longe, mas ganhou destaque na semana em que o jornalista Alberto Dines, o “zelador” da imprensa verde-loura, despediu-se da vida. Ou seja, aqueles que lamentaram a morte de Dines sequer respeitaram a sua memória e o seu legado. E muitos desses gazeteiros de aluguel derramaram lágrimas crocodilescas diante da notícia do passamento do mestre Dines.

Sabem os leitores que não tenho político de estimação nem simpatia por esse ou aquele partido. Sempre afirmo isso e repetirei à exaustão enquanto for necessário. Gostem ou não os preguiçosos adeptos do radicalismo político, pois cultuarei a opinião lógica e ácida, não importando quem seja o criticado. Meu compromisso é com o jornalismo sério, responsável e baseado na verdade e na lógica do pensamento. Não faço jornalismo de encomenda, não tergiverso diante dos fatos e não busco audiência a qualquer preço.

No Brasil de hoje, embalado pelo radicalismo e pela polarização, quem critica a burrice avassaladora da direita é rotulado como comunista, ao passo que se assim o faz em relação à delinquência esquerdista não demora a ser chamado de fascista. Em suma, parece não haver no País razão alguma para defender a democracia.

Essa gente – permito-me fazer referência a tais pessoas dessa forma – diz pensar no Brasil, cada um ao seu modo, mas de fato agarra-se ao populismo barato e rasteiro da esquerda ou da direita, a depender da ideologia do momento. Mais ou menos como o personagem Odorico Paraguaçu, de “O Bem-Amado”, que fazia figas para ter um morto qualquer que lhe permitisse inaugurar sua grande obra, o cemitério da novelesca Sucupira.

Quando critico com firmeza e contundência as bizarrices criminosas da esquerda, a direita, sempre movida por sua conhecida pantomima, chega ao êxtase. Afinal, precisa de tais críticas para manter um plano tão macabro quanto o da esquerda. E nesse caso a esquerda, que se acostumou a “apanhar”, assimila o golpe sem direito a maiores chiadeiras.

Por outro lado, quando critico a direita tresloucada, a esquerda também joga-se na vala do delírio. Contudo, os direitistas reagem avançando na seara do destempero, pois desconhecem o que é coerência e bom senso. Talvez porque também acreditem que o binômio “ordem e progresso” existe à sombra do fórceps e da truculência, física ou de pensamento. Ou seja, de um lado ou de outro, a democracia nessa república bananeira só pode existir debaixo do totalitarismo – o que é uma voçoroca intelectual.

Parte dos brasileiros está apoiando a paralisação de encomenda dos caminhoneiros, certa de que um governo derruba-se dessa maneira: com 1 milhão de motoristas bloqueando estradas Brasil afora, enquanto outras dezenas de milhões ficam estateladas no sofá da sala teclando estupidezes no smartphone. Repercutem informações mentirosas ou radicais sem ao menos verificar a procedência e a lógica. O negócio é colocar o Brasil de pernas para o ar, deixando de lado a responsabilidade cidadã.

Essa disposição modorrenta de apoiar a paralisação do País a partir das rodovias tem prazo de validade curto e no máximo chega até a página três. Quando começar a faltar comida na casa de cada um, quando o já precário atendimento médico deixar de existir por falta de insumos, quando empresas fecharem as portas por causa do desabastecimento, talvez as pessoas percebam o equívoco. Mas pode ser tarde demais.

Há pouco mais de dois anos, os que ora defendem o protesto dos transportadores de carga criticavam com veemência a forma como o Partido dos Trabalhadores arruinou a Petrobras. Os “companheiros” não apenas subtraíram dos cofres da estatal R$ 60 bilhões, mas deixaram à companhia um rombo de US$ 40 bilhões, fruto do subsídio imposto pela incompetente Dilma Rousseff aos combustíveis. Agora, esses outrora indignados querem que a “pataquada dilmesca” volte à cena. Em outras palavras, quebrar a Petrobras é o sonho dourado da esquerda e da direita.

Sedentos por retornar ao poder central e promover uma lambança conceitualmente idêntica à patrocinada pela esquerda criminosa, mas ideologicamente distinta, a direita burra não aceita minhas críticas e parte para os insultos descabidos e questionamentos intimidatórios, não sem antes despejar dezenas de mensagens ortodoxas que exalam o olor do pensamento necrosado. Não tenho medo e jamais hei de me render à intimidação.

Dentro de alguns dias, no vácuo do bolodório delinquente da direita, a esquerda bandida promete deflagrar a greve dos petroleiros, que, segundo consta, deve durar 72 horas. O propósito da greve dos petroleiros é o mesmo da paralisação dos caminhoneiros: queda nos preços dos combustíveis, redução dos impostos incidentes sobre a gasolina e o diesel, demissão do presidente da Petrobras, mudança imediata na política de preços da estatal.

Não há problema algum em reduzir os preços dos combustíveis, desde que o brasileiro concorde com o uso do dinheiro público para subsidiar o setor e com a falta de investimentos em outras áreas. Até porque, de alguma fonte o dinheiro há de jorrar. Não há problema algum em cortar impostos, desde que o brasileiro aceite manter o status quo da saúde, da educação, dos transportes, da segurança pública… Afinal, há de faltar muito mais dinheiro para vários setores. Não há problema algum em demitir Pedro Parente, desde que o brasileiro defina o que espera da Petrobras – uma bilionária usina de “faz de conta” ou uma empresa petrolífera sólida e pujante. Não há problema algum em mudar a política de preços da Petrobras, desde que o brasileiro entenda que nessa epopeia a vilania é da carga tributária e do lucro de distribuidores e revendedores.

Não há problema algum, enfim, pois essa pitoresca e pontual euforia do preguiçoso povo brasileiro há de terminar em breve. Na próxima semana, o feriado prolongado de Corpus Christi será ainda mais comprometido pela greve dos petroleiros, que decidiram embarcar na boleia dos caminhoneiros. Depois de quase dez dias trancado em casa, sem poder sair, economizando comida e torcendo para que nada de grave aconteça, o cidadão há de se encontrar com a realidade nua e crua, sem direito a mão no bolso, porque nessa barafunda chamada Brasil ninguém é rei.

Dizia meu saudoso pai, um homem tão genial quanto pragmático, quando o sujeito é burro, só resta pedir a Deus que o mate e torcer para que o diabo não demore a carregá-lo.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta e fotógrafo por devoção.

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