Lava-Jato: juízes e procuradores deveriam ignorar a fama, evitar a tietagem e abandonar o vedetismo

Quando o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato, deixou-se fotografar ao lado do empresário João Doria Junior, ex-prefeito de São Paulo e candidato do PSDB ao governo paulista, o UCHO.INFO não poupou o magistrado de críticas, como sempre responsáveis.

O Brasil, infelizmente, tem uma notória carência de heróis, mas Moro não pode ser guindado a esse posto apenas porque está a condenar os criminosos que saquearam os cofres da Petrobras e outras empresas públicas. Na verdade, Sérgio Moro está cumprindo o papel a que se propôs quando ingressou na magistratura. E para isso é régia e pontualmente remunerado, com direito ao escandaloso auxílio-moradia.

O objetivo não é censurar a postura do juiz da Lava-Jato, mas, na condição de integrante do Poder Judiciário que está a condenar políticos e empresários, deveria tomar mais cuidado em relação à própria imagem. Evitar situações como a que ocorreu em Nova York deveria ser prioridade na vida de Moro, que poderia ter se esquivado da foto ao lado do ex-prefeito paulistano, que como candidato tenta faturar politicamente a todo instante.

Como se o episódio envolvendo Sérgio Moro não servisse de lição, o juiz federal Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, se desmanchou em elogios ao ex-presidente Lula durante depoimento do petista como testemunha de defesa de Sérgio Cabral Filho, preso em um desdobramento da Lava-Jato.


Ao final do depoimento de Lula, o juiz Bretas, sem qualquer cerimônia, comportou-se como líder de fã clube ao dirigir-se ao responsável pelo maior e mais ousado esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.

“É uma figura importante no nosso país, é relevante sua história para todos nós. Para mim inclusive, que, aos 18 anos, estava aqui num comício com um milhão de pessoas e usando um boné e a camiseta com seu nome”, disse Bretas. Ao que Lula respondeu: “Quando eu fizer um comício agora vou chamar o senhor para participar”.

Marcelo Bretas é pago com o suado dinheiro do contribuinte – recebe o auxílio-moradia em duplicidade porque sua esposa também é magistrada – para aplicar a lei, não para disparar salamaleques a pessoas arroladas nas ações penais sob sua responsabilidade. O mesmo vale para os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava-Jato, pois é inaceitável que uma investigação de grandes proporções seja transformada em espetáculo midiático.

O Brasil vive um momento pitoresco em termos institucionais, que causa preocupação e perplexidade. É preciso que o exemplo venha de cima para baixo, sob pena de assim não sendo o País mergulhar de vez na espiral do descrédito. Em outras palavras, juízes da Operação Lava-Jato deveriam abandonar imediatamente o vedetismo, pois há em todos os quadrantes do País magistrados cumprindo o dever à sombra do anonimato.

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