Youssef afirma no inquérito do Rodoanel ter feito entrega de dinheiro da OAS, mas não apresenta provas

Dar crédito de forma deliberada a alguém do naipe de Alberto Youssef, o doleiro do Petrolão, que anteriormente descumpriu acordo de delação premiada no escândalo do Banestado, é passar atestado de inocência.

Não se pode negar a importância de muitas de suas delações no âmbito da Operação Lava-Jato, mas por outro lado várias acusações sequer tinham provas e serviram para tumultuar um ambiente político já conturbado. A questão não é fechar os olhos para a realidade da política nacional, tampouco proteger corruptos, mas é inaceitável atentar contra o Estado Democrático de Direito com a lança do denuncismo.

Qualquer operador do Direito sabe ser um absurdo reduzir uma pena de 112 anos de prisão para três anos de reclusão, apenas porque o delator entregou às autoridades informações sobre envolvidos no maior esquema de corrupção de que se tem notícia. Contudo, Youssef não repassou aos investigadores da Lava-Jato todas as informações que detinha, assim como possivelmente abriu mão de todos os bens que amealhou na esteira do esquema criminoso arquitetado por seu então compadre, o finado José Janene.

Após uma temporada no ostracismo, Alberto Youssef ressurgiu recentemente na cena policial para prestar depoimento aos investigadores da Operação Pedra no Caminho, que investiga desvios e fraudes no Rodoanel Norte, em São Paulo.


Youssef esteve na Superintendência da Polícia Federal, na capital paulista, há cerca de um mês e declarou, que a pedido do responsável pelo departamento de propina da empreiteira OAS, José Ricardo Breghirolli, ter feito entregas de valores em dinheiro em vários endereços na cidade de São Paulo. Contudo, o delator não citou os nomes dos destinatários.

O doleiro afirmou na PF que “o dinheiro era entregue nos endereços indicados” por José Ricardo por ele e por seu funcionário Rafael Ângulo Lopes – que também firmou acordo de delação premiada com a Lava-Jato.

“Talvez Rafael Ângulo se recorde de algum endereço ou nome do destinatário final do dinheiro; que no dia em que foi preso na 1ª fase da Operação Lava Jato, em março de 2014, havia no cofre de seu escritório uma determinada quantia de dinheiro em espécie que seria usada em algumas entregas a pedido da OAS, por meio de José Ricardo, com as respectivas anotações de endereço e o nome do destinatário nesta cidade de São Paulo/SP”, revelou.

“Tanto o dinheiro quanto as anotações de nomes e endereço foram apreendidas por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão em seu escritório; que se tratava da quantia aproximada de R$ 1,6 milhão; que eram três endereços nesta cidade de São Paulo/SP; que as quantias que José Ricardo lhe entregava variavam muito, aproximadamente de R$ 150 mil a R$ 2 milhões.”

Um depoimento dessa natureza precisa ser preservado pelas autoridades enquanto é apurado, pois diante da inconsistência apresentada até então serve apenas para condenar quem por enquanto está na condição de suspeito. Falar por falar, o doleiro também falou na Lava-Jato, mas muitas das suas afirmações não se comprovaram.