Ao persistir na candidatura de Lula, o PT mostra que continua acreditando estar acima da lei

Insistindo em ignorar os efeitos colaterais provenientes da decisão de manter Lula como candidato ao Palácio do Planalto, o Partido dos Trabalhadores levará até o fim o plano de registrar no último dia a candidatura do ex-metalúrgico, como se isso pudesse render algum dividendo eleitoral.

Na verdade, há nos bastidores do PT uma queda de braços insana pelo poder, que contrapõe a presidente nacional da legenda, Gleisi Helena Hoffmann, e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, candidato a vice na chapa de Lula.

Vivendo momentos nada ternurentos entre os “companheiros”, Gleisi tenta a toda hora inviabilizar Haddad como cabeça de chapa, uma vez que Lula está inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. Enquanto Fernando Haddad tenta suprir a ausência do ex-presidente nos eventos políticos, a senadora paranaense insiste em dar declarações contraditórias, o que não assusta quem conhece seus corriqueiros destampatórios.

Em entrevista na sede do PT, em São Paulo, Gleisi afirmou a jornalistas que o partido não trabalha com a possibilidade de Haddad assumir o lugar de Lula na disputa pela Presidência da República. Trata-se de um discurso descabido, pois até o próprio Lula considera essa possibilidade, o que explica não apenas a escolha de Fernando Haddad como candidato a vice, mas sua pressão sobre o PCdoB para que Manuela D’Ávila desistisse da candidatura.


O que a presidente nacional do PT busca é exatamente o que Lula também quer com sua estratégia suicida: o protagonismo. Enquanto Gleisi sonha em continuar à frente do partido, dando as cartas Brasil afora, Lula sequer sonha em perder o protagonismo na esquerda latino-americana. Por isso insiste nesse plano absurdo que pode levar o PT a mais um processo de encolhimento nas urnas.

Se por um lado Gleisi Hoffmann garante que Lula participará da campanha presidencial de um jeito ou de outro – isso é balela –, de outro os advogados do PT já admitem a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral julgar o registro da candidatura de Lula antes do inicio do horário eleitoral. Basta o TSE declarar o petista inelegível, status que encontra respaldo na Lei da Ficha Limpa e é recepcionado com todas as honras pelo tribunal.

Aliás, não se pode ignorar as repetidas vezes em que o ministro Luiz Fux, que deixa a presidência do TSE na noite desta terça-feira (14), afirmou ser inelegível aquele que é alvo de condenação proferida em segunda instância. Considerando que no ato do registro da candidatura faltará a necessária certidão negativa da Justiça, Lula de chofre estará inelegível. Isso significa que Gleisi Hoffmann ou não sabe o que está falando ou quer atrapalhar a vida de Fernando Haddad.