Crítico das “fake news”, Bolsonaro divulga vídeo falacioso para minimizar escândalo da vendedora de açaí

Os seguidores de Jair Bolsonaro, que à sombra do radicalismo e da intolerância formam uma seita, não hesitam em atacar os críticos do presidenciável do PSL, mesmo diante de fatos incontestáveis, mas calam-se quando o candidato abusa de informações falsa para justificar seus tropeços.

Em janeiro deste ano, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou que Walderice Santos da Conceição, que aparecia nos registros da Câmara dos Deputados como assessora parlamentar de Bolsonaro, era uma funcionária fantasma. Ela mora na Vila Histórica de Mambucaba, a 50 km de Angra dos Reis (RJ), e trabalha no estabelecimento comercial “Açaí da Wal”.

No debate entre presidenciáveis realizado pela Band, na última sexta-feira (10), Jair Bolsonaro foi questionado por Guilherme Boulos sobre a assessora (sic) Wal. O candidato disse que quando a Folha foi a Angra dos Reis, sua assessora estava de férias, como consta dos registros da Câmara, mas o jornal decidiu publicar matéria sobre funcionária fantasma.

“A sra. Wal, sra. Walderice, é uma funcionária minha em Angra dos Reis. Quando a Folha de S.Paulo foi lá [em janeiro] e não achou, botou manchete no dia seguinte de que ela estaria lá fantasma. Só que em boletim administrativo da Câmara dos Deputados de dezembro ela estava de férias”.

Na última segunda-feira (13), repórteres da “Folha de S.Paulo” estiveram no “Açaí da Wal”, na Vila Histórica de Mambucaba, e conversaram com a própria Walderice, que naquele momento deveria estar trabalhando como assessora parlamentar.


No local, os repórteres compraram uma porção de açaí e outra de cupuaçu. Quando os repórteres se identificaram, Walderice disse que só falaria com autorização de do deputado. Em seguida, ela pediu demissão do cargo. De acordo com dados disponíveis no site da Câmara dos Deputados, Walderice recebia salário bruto de R$ 1.351,46.

“Tenho aquela casa há 25 anos e contratei ela há uns 12 anos. Como de vez em quando estou lá, muita gente me procura e ela é encarregada de filtrar e passar pra mim, só isso”, disse Bolsonaro aos jornalistas. “O crime dela foi dar água para os cachorros”, completou.

Como em período eleitoral os candidatos evitam fatos negativos, Jair Bolsonaro não perdeu tempo e, na noite de quarta-feira (15), divulgou nas redes sociais um vídeo de pouco mais de dez minutos em que Walderice nega ter sido uma funcionária fantasma. Declaração no mínimo estranha, pois o próprio presidenciável afirmou que o “crime” de Wal foi “dar água para os cachorros”. Além disso, a funcionária fantasma afirmou no vídeo, ao contrário do que declarou aos repórteres da Folha, que não é dona do “Açaí da Wal”.

No vídeo, os filhos do candidato mostram que o regimento da Câmara dos Deputados permite que parlamentares contratem assessores em seus redutos eleitorais, mas preferiram não revelar que a regra exige que os tais contratados cumpram jornada de 40 horas semanais de trabalho exclusivo. Ou seja, assessor parlamentar não pode vender açaí na praia enquanto é remunerado com o suado dinheiro do contribuinte.

Os integrantes da seita certamente se rebelarão diante da verdade, alegando que se trata de mais uma informação inverídica – só assim conseguem se manifestar –, não sem antes afirmar que o imaculado candidato nada deve e é o único capaz de resolver os problemas do País. Triste Brasil!