Bolsonaro adota discurso vitimista e diz que objetivo de denúncia por racismo é “criar fato político”

Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro apresenta-se ao eleitorado como o único capaz a quebrar o paradigma da velha política, mas suas atitudes mostram que ele é mais do mesmo. Esse ranço político de Bolsonaro ficou patente mais uma vez nesta segunda-feira (27), no Rio de Janeiro, quando ele disse que a denúncia de racismo apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) é uma tentativa de “criar um fato político”.

A denúncia será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira (28), que poderá ou não transformar o candidato em réu em ação penal. Bolsonaro é acusado pelo crime de racismo em relação a quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs, por frases proferidas em palestra no clube Hebraica, no Rio de Janeiro.

“A intenção é criar um fato político (sobre julgamento do STF que analisará a denúncia por racismo). Não quero criticar o Supremo aqui, mas a questão dos índios, por exemplo, sou contra a demarcação de terras indígenas em vigor, não podemos ter uma área maior que a região sudeste demarcada como terra indígena. É um subsolo riquíssimo”, disse o deputado federal.

A denúncia e a respectiva análise pelo STF seguem o que determina a legislação vigente no País. Ou seja, a “criação de fato político” é por conta de Jair Bolsonaro, que como um totalitarista convicto não aceita ser contrariado. Dono de verborragia marcada pelo radicalismo e pela intolerância, Bolsonaro vale-se do discurso fácil e contundente para ganhar as manchetes, mas não quer ser responsabilizado pelas próprias palavras.

Bolsonaro precisa decidir se aceita as regras que ele impõe a seus adversários. Há dias, no interior de São Paulo, o candidato do PSL disse diante dos seus seguidores que o ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, está “na mira da Lava-Jato”.


“Alckmin se juntou ao que tem de pior na política brasileira. É por isso que os eleitores dele agora estão me apoiando. É só comparar a minha vida pregressa com a dele. Estou no sétimo mandato de deputado federal e não tenho uma mancha. Já ele está na mira da Lava Jato em São Paulo”, disse Bolsonaro.

O UCHO.INFO não tem político de estimação, como já reiterado em diversas ocasiões, nem candidato de preferência, mas é preciso isonomia ao tratar dos fatos, sempre atrelado à verdade, gostem ou não os incomodados. A força-tarefa da Operação Lava-Jato em São Paulo vasculhou a vida de Alckmin e nada encontrou de ilícito, enviado ao Ministério Público Eleitoral o caso de suposto caixa 2 de campanha.

Este portal noticiou, há dias, que se as autoridades concluírem que Geraldo Alckmin é culpado, ele e todos os envolvidos, respeitado o direito à ampla defesa, devem ser punidos de acordo com a lei. O que há em relação a Alckmin, por enquanto, são acusações feitas por delatores, que precisam ser comprovadas documentalmente para embasar qualquer denúncia.

No caso de Bolsonaro, suas declarações têm efeito de prova e não deixam dúvidas a respeito do crime cometido. Apesar dessa incontestável evidência, o candidato do PSL, que já é réu em outras duas ações penais, não pode ser considerado culpado, mesmo que o STF aceite a denúncia por crime de racismo.

Se o fato de o ex-governador Geraldo Alckmin ter comparecido ao Ministério Público de São Paulo para depor na investigação sobre suposto caixa 2 nas campanhas de 2010 e 2014 pode ser usado por Bolsonaro para atacá-lo, o candidato do PSL não tem o direito de se fazer de vítima diante da denúncia da Procuradoria-Geral da República. Afinal, na democracia, mesmo que nem todos tenham bom senso, a isonomia é a letra maior.