O Bispo, a Globo e o diabo

(*) Ipojuca Pontes

Dom Celso Antônio Marchiori, então Bispo de Apuracarana, Paraná, ao cabo de prédica em torno da vida, da fé e da família, fez apelo dramático aos seus paroquianos – apelo considerado corajoso, pertinente e oportuno.

(Antes, observo que o bispo não é qualquer um: estudou em grupo escolar e no Seminário Menor São José, em Curitiba. Fez curso superior de Filosofia pela PUC do Paraná e de Teologia no Studium Theologicum. Foi Reitor do mesmo Seminário Menor, diretor espiritual do Seminário de Filosofia Bom Pastor e Vigário da Paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus, em Curitiba. Em 2008, o Papa Bento XVI nomeou-o Bispo da Diocese de Apucarana).

Não sei se o bispo Marchiori é de “esquerda” ou de “direita”, mas considero o seu veemente apelo digno de um verdadeiro cristão. Eis sua rogativa:

“Faço aqui um apelo a todos os católicos. Certamente todos nós temos na nossa família algumas pessoas que não são católicas, mas são evangélicas ou de alguma outra religião. Falem com elas e vamos nos unir contra este espírito diabólico que a Rede Globo está espalhando contra a família e contra a religião.

Cuidado com as suas novelas! Nós, católicos, não deveríamos mais assistir a nenhuma novela da Globo. Nós católicos, aliás, não deveríamos mais assistir à Rede Globo porque a Rede Globo é um demônio dentro das nossas casas. Com suas novelas, com seus programas, inclusive com alguns programas às vezes com aparência religiosa – cuidado! São Paulo Apóstolo fala na Primeira Carta aos Coríntios que o Diabo tem o poder de se transformar em anjo de luz para enganar, se possível, até os eleitos!

Portanto, às vezes, um fervorzinho na Globo não quer dizer que a Rede seja religiosa. Ela é uma Rede manipuladora de opinião e está nos conduzindo para o abismo, para a destruição. Precisamos nos reunir.

Conversando nesses dias com o Pastor Waldir com o Pastor Daniel, com o Pastor Acioly da Assembleia de Deus, nós falamos justamente isso: precisamos nos reunir contra essa ditadura da Rede Globo. Que nos manipula, que nos destrói e quer que aconteça justamente isso: que a religião e a família sejam totalmente destituídas, destruídas.

Peçamos à Nossa Senhora Aparecida que venha em nosso socorro, que interceda por nós e que nos ajude, cada dia mais, consistentemente, a sermos fiéis discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!”

Bem, vejamos. Segundo Marx, figura demoníaca que na juventude fez pacto com o diabo e frequentou centros ocultistas, a “religião é ópio do povo” (“Die religion sie ist das opium des wolkes”, conforme explícito na sua “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”.

Para o teórico comunista Antonio Gramsci, mentor da vossa mídia, dos intelectuais orgânicos e dos ativistas acadêmicos em busca de um “novo senso comum”, a religião também é um narcótico, mas que deve ser usado em proveito do “moderno Príncipe” (partido comunista e correlatos) “que toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico” e torna-se “a base da completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costumes”. A tomada da igreja, ensina “Il Gobbo”, deve ser feita pela gradativa “ocupação de espaços” objetivando, claro, a hegemonia vermelha, em princípio, totalitária, materialista e ateia.

Sem dúvida, o Bispo Marchiori está coberto de razão: a Rede Globo, em que pese seus anúncios promocionais em torno das “fake news” (ou talvez por isso mesmo), virou um instrumento diabólico preponderante na subversão dos valores morais e espirituais do cristianismo. Suas novelas, em especial, são usinas de transgressões que alimentam, há décadas, sem descanso, a inculpação do crime, a exploração vulgar da violência física e psicológica, a desagregação humana, a mentira institucionalizada, a larga difusão de fraudes, de roubos e do baixo erotismo, sem falar na recente divinização do gayzismo.

A propósito, numa dessas novelas, em busca da construção de um “novo senso comum”, o casal gay da trama vendia a imagem da perfeita e invejável harmonia conjugal, enquanto, por sua vez, os casais héteros se engalfinhavam em meio a cenas de adultério, extorsões e agressões sem fim. Ao espectador, dopado pela dramaturgia de massa, que passa ao largo das impressões genuínas que qualificam a arte dramática, restava o consolo de que aquele lamaçal, quem sabe, talvez representasse a normalidade da vida real da qual, graças a Deus, ele ia escapando.

No cardápio cultural da Globo, as questões da sociedade, em geral conservadora, são descartadas em função das “demandas” das minorias que os mentores ideológicos da Rede, afogados nas mistificações de Marx, Gramsci e do alucinado Marcuse, pretendem situar como básicas para se enredar a “crítica da burguesia” no plano existencial. (Lembrei-me agora que o principal novelista da Globo, Dias Gomes, durante algum tempo figurão do Partido Comunista no Rio, se jactava de ser “apenas um subversivo” na arrumação de suas novelas).

No plano da informação a Globo parece cumprir a agenda da inútil ONU terceiromundista, nas mãos do parasitismo diplomático esquerdista, com uma pitada do ideário do Clube Bilderberger, núcleo da banca internacional, interessado em estabelecer uma nova ordem mundial a partir do colossal financiamento de ONGs ambientalistas e agências diversas que sirvam, à moda da casa, aos seus interesses hegemônicos.

Com efeito, propostas como, por exemplo, a descriminalização da droga e do aborto, desarmamento, casamento gay etc., repudiadas pela maioria da população brasileira, contam com a ampla adesão da Rede progressista, no momento abjurando (post mortem) os ideais de Roberto Marinho, seu criador.

(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.