Ataque a Bolsonaro deve estar circunscrito aos fatos, não às conjecturas torpes de seus seguidores

O ataque a Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL, acabara de acontecer em Juiz de Fora, Minas Gerais, na tarde de quinta-feira (6), mas seus apoiadores e eleitores esclareceram o caso em questão de minutos. Donos da verdade suprema e avessos a qualquer crítica, sempre rebatida com a truculência que marca a campanha do capitão reformado, os seguidores do candidato sacramentaram a conclusão: o ataque foi um crime político encomendado pelos partidos de esquerda.

Não foi preciso muito tempo para que o veredicto ganhasse as redes sociais como rastilho de pólvora. Com o desdobramento dos fatos, a versão original do inquérito-relâmpago foi sofrendo adaptações, até porque era preciso manter em pé uma farsa que não se se sustenta por si só.

Em matéria anterior, o UCHO.INFO afirmou ser um misto de “leviandade extrema, má-fé e fraude ao bom senso” politizar o ataque a Bolsonaro, devendo cada brasileiro não apenas manter a parcimônia, mas aguardar a conclusão do inquérito conduzido pela Polícia Federal, cuja competência dispensa apresentações.

Nenhuma hipótese deve ser descartada, mas precipitação de conveniência associada à má intenção é um coquetel deplorável que beira a delinquência intelectual, mas agrada aos que vivem à sombra do pensamento binário. Mas não se pode aceitar como verdadeiras informações mentirosas como a de que o autor do ataque era responsável pela campanha de Dilma Rousseff em Juiz de Fora ou que a polícia encontrou com o criminoso o comprovante de um depósito bancário no valor de R$ 350 feito pelo PT. Isso é jogo sujo, imundo, típico de quem chafurda na lama e critica os adversários por agirem de forma idêntica.

No momento em que um país embalado pelo radicalismo eleitoral carece de calma e tranquilidade para que a democracia não seja levada à emergência, pessoas públicas que deveriam pautar-se pelo equilíbrio e pela sensatez apostam no “quanto pior, melhor”. Talvez porque esses utópicos creem que a fracassada fórmula possa de alguma maneira interferir no resultado das urnas. Em suma, querem resolver a eleição no grito, transformando o estado de saúde do candidato atacado como ingrediente de campanha. E que ninguém pense diferente, pois isso já está ocorrendo.

Candidato a vice na chapa encabeçada por Bolsonaro, o general reformado Hamilton Mourão afirmou, em entrevista, ter certeza de que o autor do crime é do Partido dos Trabalhadores. “Eu não acho, eu tenho certeza: o autor do atentado é do PT”. Relacionar o autor do ataque ao PT sem qualquer prova concreta é obra do achismo, é crime. Isso mostra o que poderá acontecer com o Brasil caso Jair Bolsonaro seja eleito e, na eventualidade, Mourão assuma o cargo.

Mandado para a reserva porque, ignorando o Estado Democrático de Direito, defendeu recentemente a intervenção militar, Mourão vem ganhando fama com seus destampatórios. Na mesma entrevista, o candidato a vice demonstrou de forma clara que a democracia verde-loura corre sérios riscos. “Se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”, disse Hamilton Mourão. Considerando que até recentemente Bolsonaro estava à procura de um vice capaz de “meter o pé na porta”, Mourão é a pessoa certa. Resta saber se esse comportamento torpe tem espaço no regime democrático.

Usando o mesmo tom de ameaça de que se valeu o general defensor do “bate e arrebenta”, o presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, disse em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, logo após o episódio, “agora é guerra”. Essa é a declaração que o Brasil precisa em momento de radicalismo e intolerância? Esse é o comportamento que o brasileiro espera de um homem público? Alguém há de dizer que Bebbiano não é candidato, mas é presidente do partido de Bolsonaro, que se eleito não abandonará os aliados de primeira hora.

A madrugada do Dia da Independência dava seus primeiros passos quando surgiram na rede mundial de computadores declarações estapafúrdias de Fernando Francischini, deputado federal pelo PSL do Paraná, que desde sua chegada a Brasília circula pelos corredores do Congresso Nacional com ares de xerife da Botocúndia.


“Nós não podemos aceitar que amanhã (sexta) uma audiência de custódia coloque na rua esse bandido. Ele pode aparecer como mais um morto do sistema”, disse Francischini, em referência a Adélio Bispo de Oliveira, autor do ataque. Para quem é delegado da Polícia Federal, Francischini parece ter faltado às aulas de Direito Penal. Somente um juiz tresloucado colocaria em liberdade um criminoso confesso como Adélio.

O que Fernando Francischini, candidato ao Senado, busca é excesso de exposição, pois nada justifica uma declaração desajustada como essa. A bizarrice comportamental de Francischini é tamanha, que o devaneio continuou: “Ele [Adélio] pode ser morto pelas pessoas que encomendaram o crime”. Se a PF ainda não concluiu as investigações, como o deputado já sabe que há um mandante do crime?

“Vamos exigir uma investigação se houve mandante desse crime. As informações que temos dos bastidores são graves. A polícia tem informações que não foram só uma ou duas pessoas envolvidas nessa situação”, declarou o deputado do PSL e candidato ao Senado. Mesmo que a polícia tenha essa informação, alguém com experiência em investigação, como supõe-se que Francischini tenha, não alardeia o fato, pois a apuração do crime pode ser comprometida.

“Na questão criminal nós exigimos agora uma investigação rigorosa. Queremos quebra de sigilo para identificar se isso é uma ação individual, orquestrada ou há algo maior por trás disso. Muitos fatos colaboraram nos últimos dias, de demonstração de que estava muito bem. (Bolsonaro) continuava líder nas pesquisas, e pra nós é muito importante tirar a limpo essa história”, bradou Fernando Francischini.

Por sorte a Polícia Federal livrou-se de Francischini, mesmo que temporariamente. A PF não precisa de alguém para cobrar investigação rigorosa nem para exigir quebra de sigilos, algo que cabe ao delegado do caso solicitar à Justiça, se necessário, e depende de autorização do juiz. Insinuar de que “há algo maior por trás disso” é elucubração, que como tal é deplorável. Os investigadores sabem como agir e no momento adequado o resultado da apuração será divulgado. O que se tenta é antecipar a conclusão do inquérito para que interfira no processo eleitoral.

A madrugada continuava avançando e o número de comparsas de Adélio presos pela Polícia Federal aumentava. Todos envolvidos no crime político encomendado pela esquerda. Pelo menos essa era a informação usada pelos radicais seguidores de Jair Bolsonaro para criticar nossas matérias e postagens. Que os polos não sejam invertidos, já que o Brasil está diante de um crime cometido contra um político, não diante de um crime político como querem fazer acreditar os interessados em turbinar uma campanha eleitoral.

O dia começou a raiar e os três presos misteriosamente foram reduzidos para dois. Na verdade, preso mesmo apenas Adélio Bispo de Oliveira, que já foi transferido da PF de Juiz de Fora. O segundo, detido na condição de suspeito, foi interrogado e liberado, mas continuará sendo investigado. O que não significa que é culpado. O terceiro, ninguém sabe, ninguém viu. Há, sim, suspeitos sob investigação, nada mais.

Contudo, os integrantes da seita – continuaremos assim nos referindo aos seguidores de Bolsonaro, mesmo durante sua convalescença – arrumaram novo argumento para manter ereta a teoria conspiratória. O coringa da vez é um vídeo, analisado por especialistas (sic), que sugere que Adélio Bispo, no momento do ataque, estava acompanhado por outras pessoas. No local do crime estavam centenas de pessoas, mas os gênios de plantão conseguiram o inusitado. E que todos se preparem, porque essa epopeia rocambolesca há de continuar. É responsabilidade dos peritos criminais analisar as imagens do local do ataque, não de afoitos que se julgam os últimos gênios da raça.

Ao contrário do que pensam os seguidores e apoiadores de Jair Bolsonaro, o UCHO.INFO torce pela recuperação do candidato do PSL. Discordamos de suas propostas radicais, as quais não encontram respaldo no campo da lógica do Estado e nem amparo na democracia, mas é impossível desejar o mal ao próximo, como fazem o próprio candidato e seus apoiadores.