Mais forte que o ódio

(*) Carlos Brickmann

A política é a luta pelo poder. Violência, portanto, faz parte do jogo. No passado, disputava-se o poder guerreando o adversário, e matando-o. Hoje, o jogo político reduziu a violência. Infelizmente, ainda não pôde eliminá-la.

A violência política no Brasil tinha um limite. A última vítima de atentado, entre os candidatos aos principais cargos políticos, tinha sido João Pessoa, vice na chapa de Getúlio Vargas, em 1930 – há 88 anos!

Mas, faz algum tempo, a violência política começou a crescer, no clima do “nós contra eles”. O governador de São Paulo, Mário Covas, bem que tentou conversar com professores em greve, mas foi agredido. José Dirceu disse então uma frase famosa: “Têm de apanhar nas urnas e na rua”. E tudo desandou: um professor carioca propondo o fuzilamento de toda “a direita”, o post de uma jornalista – que pessoalmente é tranquila – exigindo que um Governo petista se inicie construindo um “paredón”; e Bolsonaro do outro lado sugerindo “metralhar os petralhas” – dizem que brincando, mas hoje não dá para brincar assim. Nenhum dos lados deve brincar com as palavras.

Esse clima, que levou ao atentado, deve influenciar as eleições. E não deveria: levar uma facada não melhora nem piora um candidato. É preciso votar com a cabeça, não com o coração; só isso nos libertará da cultura do ódio. Votar naquele que se considerar o melhor nome. Não se pode deixar que as eleições sejam influenciadas por um idiota com uma faca na mão.

Besteirol em alta

A prova de que, quando se fala em política, muita gente deixa de pensar, está na enxurrada de mensagens que negam o atentado: dizem que é falso, ou, em bom português, fake. Vídeos e fotos são montados, os médicos participam (e, claro, os enfermeiros também). A imensa farsa envolve três hospitais – o Einstein, onde Bolsonaro foi internado, o Sírio, que enviou um grupo de avaliação a Minas para analisar a remoção do ferido, e a Santa Casa de Juiz de Fora, onde houve a cirurgia que salvou a vida do paciente. Aliás, não falam apenas em falsificação: foi “grosseira falsificação”. Pode?

O melhor de tudo

Parece até o sítio de Atibaia, aquele que não é de Lula: o acusado que não deu facada nenhuma, embora tenha confessado, não era militante de esquerda, embora tenha dito que era, embora tenha sido membro do PSOL por sete anos, embora estivesse com camiseta vermelha Lula Livre. Pois é.

O dilema dos outros

Dilma Rousseff é coerente: falou besteira. Acusou a vítima pelo ataque. Mas a posição oficial do PT é condenar o atentado. É a posição de todos os partidos. Mas a preocupação é outra: como ajustar a propaganda diante dos novos fatos. O mais preocupado é Alckmin: ele era quem mais criticava Bolsonaro, em busca das intenções de voto tucano que tinha migrado. Na campanha, Alckmin era o administrador sensato, capaz de pacificar o país, e Bolsonaro um político descontrolado, uma espécie de petista visto pelo espelho.

Se os anúncios eram ou não eficientes, ainda não dá para saber. Mas eram vistos, e não só na TV, onde Alckmin tem quase a metade do tempo disponível: segundo O Globo, meio milhão de pessoas viram dois dos vídeos na Internet, e os outros também tinham audiência. Só que agora não dá para atacar Bolsonaro, que é vítima; nem deixar de atacá-lo, pois aí fica difícil retomar os eleitores perdidos para ele. O PT só não tem esse problema porque precisa explicar que Lula agora é um universitário de terno e gravata, com sobrenome árabe, que não consegue falar sobre nenhum assunto, nem sequer dar um bom-dia, depois de visitar Curitiba.

Divirta-se!

Gostou de um candidato e gostaria de saber mais sobre ele? Quer falar mal do candidato de algum amigo? Seus problemas acabaram: ligue no link www.tchauqueridos.net e entrará no site Tchau, Queridos. Basta escolher o Estado e o nome da pessoa que aparecerá tudo sobre ela, votos, processos, etc. Não é perfeito – afinal, um site que consiga cobrir todos os envolvidos em corrupção deve exigir supercomputadores – mas é útil e bem divertido.

Preocupe-se

O apoio popular à Operação Lava Jato vem diminuindo – lentamente, mas diminui. A informação é de uma pesquisa do instituto multinacional Ipsos, realizada entre 1º e 11 de agosto. Embora o apoio às investigações se mantenha altíssimo 86%, cai desde junho de 2017, quando era de 96%. E a desconfiança aumenta: antes, 74% acreditavam que a Lava Jato investigava todos os partidos. Hoje, o número caiu para 46%.

Uma informação relacionada a esta, obtida na mesma pesquisa: 30% dos eleitores votariam num candidato envolvido em escândalos de corrupção, “desde que fosse um bom presidente”. Boa parte desses eleitores apoia com entusiasmo a Lava Jato e acha que o combate à corrupção tem de ir até onde for possível, mas não se opõe ao “rouba mas faz”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.