Divisão do fundo eleitoral nos partidos mostra que reforma política serviu para manter status quo

Aconteceu o que era esperado por aqueles que acompanham a política brasileira com mais atenção. A reforma política aprovada no Congresso Nacional em outubro de 2017, que na verdade foi um arranjo de afogadilho, serviu para manter o status quo no Parlamento federal, garantindo aos atuais “donos” dos partidos políticos o poder de decidir o futuro do País

Demorou para que a opinião pública constatasse a dura realidade, mas nesta segunda-feira (24) a verdade veio à tona com a divulgação de dados sobre a distribuição do fundo eleitoral. E ficou comprovado o que muitos veículos da imprensa brasileira noticiaram à época.

No momento em que deputados e senadores aprovaram a criação de um fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão, ficou evidente que a divisão dos recursos seria direcionada para privilegiar os mandatários das legendas e, ato contínuo, em caso de renovação dos quadros partidários, para beneficiar os prepostos destes. Em suma, para continuar tudo como está.


No Partido da República (PR), legenda comandada por Valdemar Costa Neto, um dos primeiros nomes da lista de distribuição do fundo eleitoral a que faz jus o PR é o de Lauriete Rodrigues, mulher do senador Magno Malta (ES). O Partido da República faz parte do bloco que apoia Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, enquanto Malta apoia a candidatura de Jair Bolsonaro, do PSL.

Outro nome que aparece na lista é o de Flávia Arruda, mulher de José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal e preso na esteira do escândalo conhecido como Mensalão do DEM. Lauriete e Flávia concorrem a Câmara dos Deputados e receberam R$ 2,3 milhões cada.

No Partido dos Trabalhadores quem lidera a lista de repasse do fundo eleitoral e a presidente da legenda, senadora Gleisi Helena Hoffmann (PR), que desistiu de concorrer à reeleição e preferiu disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Essa decisão contrariou o ex-presidente Lula, preso em Curitiba, que viu no gesto de Gleisi um misto de confissão de culpa com aceitação da derrota. O ex-metalúrgico defendia a tese de que a senadora, em nome do partido, deveria ir para o sacrifício.

A ex-presidente Dilma Rousseff também aparece no rol dos “companheiros” mais beneficiados na divisão do fundo eleitoral, assim como a novata Marília Arraes, que foi obrigada a retirar sua candidatura ao governo de Pernambuco e concorrer à Câmara dos Deputados.