Palocci diz que Lula sabia do Petrolão desde 2007; UCHO.INFO denunciou o esquema em agosto de 2005

Em acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal, Antonio Palocci Filho detalhou o loteamento de cargos na Petrobras, que passou a funcionar com o fim de captação de recursos para as campanhas do PT. Em depoimento, Palocci reafirmou que Lula tinha conhecimento do esquema de corrupção na estatal desde 2007. Contudo, o UCHO.INFO, que denunciou pela primeira vez o esquema em agosto de 2005, afirma que o então presidente da República sabia dos ilícitos desde então.

A delação de Palocci, que teve o sigilo suspenso em parte por decisão do juiz Sérgio Moro, revela de maneira minuciosa a maneira como foi montado o esquema loteamento de cargos e divisão de propinas na Petrobras, atendendo aos interesses de partidos políticos, a partir das indicações de Paulo Roberto Costa e Renato Duque, à época responsáveis pelas diretorias de Abastecimento e de Serviços, respectivamente.

“Em fevereiro de 2007, logo após sua reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva convocou o colaborador, à época deputado federal, ao Palácio da Alvorada, em ambiente reservado no primeiro andar, para, bastante irritado, dizer que havia tido ciência de que os diretores da Petrobrás Renato Duque e Paulo Roberto Costa estavam envolvidos em diversos crimes no âmbito das suas diretorias”, relatou Palocci.

Ainda segundo Palocci, o então presidente indagou ‘se aquilo era verdade, tendo respondido afirmativamente’.

“Que (Lula) então indagou ao colaborador quem era a pessoa responsável pela nomeação dos diretores; Que o colaborador afirmou que era o próprio Luiz Inácio Lula da Silva o responsável pelas nomeações; Que também relembrou a Luiz Inácio Lula da Silva que ambos os diretores estavam agindo de acordo com parâmetros que já tinham sido definidos pelo próprio Partido dos Trabalhadores e pelo Partido Progressista.”

“Acredita que Lula agiu daquela forma porque as práticas ilícitas dos diretores da estatal tinham chegado aos seus ouvidos e ele queria saber qual era a dimensão dos crimes, bem como sua extensão, e também se o colaborador aceitaria sua versão de que não sabia das práticas ilícitas que eram cometidas em ambas as diretorias, uma espécie de teste de versão, de defesa, com um interlocutor, no caso, o colaborador; Que essa prática empregada por Lula era muito comum.”


O depoimento de Palocci confirma as primeiras informações deste portal sobre o Petrolão, publicadas há mais de uma década. Na ocasião, afirmamos que José Janene, que na ocasião exercia mandato de deputado federal pelo PP do Paraná, era o mentor intelectual do esquema de corrupção que substituiu o Mensalão do PT. Janene faleceu em outubro de 2010, em decorrência de grave cardiopatia.

O ex-ministro da Fazenda está preso desde setembro de 2016, quando foi alvo da Operação Omertà, 35ª fase da Operação Lava-Jato, e foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão.

O termo número 1 de colaboração de Antonio Palocci foi anexado à ação penal que trata do pagamento de supostas propinas de R$ 12,5 milhões pela Odebrecht ao ex-presidente, através da aquisição de um apartamento em São Bernardo do Campo e de um terreno onde seria sediado o Instituto Lula.

Em setembro de 2017, Palocci confessou crimes em depoimento no âmbito da mesma ação penal, atribuindo a Lula um ‘pacto de sangue’ de R$ 300 milhões entre o ex-metalúrgico e a Odebrecht.

No primeiro governo Lula, de acordo com o depoimento de Palocci, a Odebrecht, ‘alinhada ao PP’, passou a ‘atuar’ para derrubar o então diretor da estatal, Rogério Manso, último indicado pelo governo FHC na petrolífera. Segundo Palocci, Manso teria imposto ‘dificuldades’ à empreiteira.

Palocci explicou em depoimento de delação que ‘isso se deu porque o PP estava apoiando fortemente o governo e não encontrava espaço em Ministérios e nas estatais’ e que Lula estava ‘observando esse cenário’.

“Lula decidiu resolver ambos os problemas indicando Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento”, disse Palocci. É importante ressaltar que Paulo Roberto foi indicado por Janene.